Editorial
JP, 16 de maio
Ainda
na ditadura militar, a imprensa brasileira foi contaminada pelo vírus da
exceção política. Além da censura prévia e perseguição a jornalistas,
concessões na área de comunicação passaram a ser dirigidas somente a pessoas de
alta confiança, os sicários do regime que, por trás do rigor ideológico no
melhor estilo Tradição, Família e Propriedade, construíram nos Estados
cidadelas coronelistas apoiadas no regime de exceção.
Foi
assim que o poder político de algumas famílias, como a dos Sarney no Maranhão,
alongou-se sustentado em indevassáveis monopólios dos meios de comunicação.
Sarney se tornou dono do jornal mais poderoso, tomou a afiliação à Globo ao
Sistema Difusora no dia mesmo em que inaugurou o Sistema Mirante, espalhou dezenas
de emissoras de rádio e repetidoras de TV pelo interior do Estado e passou a
reinar sozinho, em tempos sem internet nem redes sociais, nos meios
comunicação.
A
ditadura militar precisava proteger-se de notícias sobre censura, tortura,
desaparecimentos, exílio, deportação de brasileiros indignados com o regime. E
somente a pessoas como Sarney, que também tinham motivos para odiar a liberdade
de imprensa, confiaram o direito de gerenciar os meios de comunicação no país.
Essa gente se tornou intocável, pois enquanto se garantia legalmente nos atos
institucionais, quase nada sobre seus crimes políticos pessoais e os crimes
políticos do regime era divulgado no Brasil. Fosse naqueles tempos, sequer
seriam publicadas notícias sobre investigações de propinas pagas ao governo
Roseana Sarney.
E
essa é a gente que está chamando direito de resposta, fato comum e garantia
constitucional, de atentado à liberdade. Eles bem lembram “Os Intocáveis”,
filme dirigido com preciosismo por Brian de Palma, trama policial que retrata
as dificuldades da Justiça e da Polícia para prender mafiosos que agiam
impunemente na Chicago do final dos anos 50. Pelo menos o desespero de Al
Capone maculando membros do Poder Judiciário e insultando as autoridades locais
parece repetir, aqui, o mesmo roteiro.
Interessante
é que no filme, os intocáveis não são pegos por corrupção nem contrabando, mas
por sonegação de impostos o que, no nosso caso, dá na mesma.
Têm
o desplante de falar em veículos de comunicação pagos com recursos públicos
quando, até na votação do orçamento anual do Estado, nos diversos governos de
Roseana Sarney, deputados denunciaram que os investimentos nos órgãos de
comunicação da família superavam os investimentos em agricultura.
E
não custa lembrar a cena clássica do filme, na qual um carrinho de bebê
despenca por uma escadaria em meio a cerrado tiroteio. O intocável grupo Sarney
despenca, agora, na escadaria da realidade, sob fogo cerrado de uma Justiça e
de uma Imprensa que, a bem da verdade, sempre desrespeitou.
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