terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O pavilhão 6

Editorial JP,12 de janeiro
A Justiça brasileira alcançou o que até bem pouco tempo parecia impossível: Vencer a imunidade da classe política, dos muito ricos e de poderosos de todos os naipes e tamanhos. À notícia de que foram autorizadas as quebras dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do senador Edison Lobão, duas vezes ministro, nas bancas as capas das principais revistas do país trazem estampadas as fotos de alguns dos mais ricos e poderosos brasileiros na prisão.
A incredulidade nos rostos dos prisioneiros do Pavilhão 6, na capa da revista Veja, é a mesma do povo brasileiro. Não era possível crer que Marcelo Odebrecht, João Vaccari Neto e José Dirceu, vivendo, hoje, tormentos parecidos aos de prisioneiros comuns, fossem descritos assim, no texto romanceado da reportagem: “São quase 6 da manhã. Sete graus. O dia ignora o verão. O interno 18065, bilionário, herdeiro do maior império de construção pesada no país, escorrega para fora do colchonete raso, pisa descalço no chão gelado da cela 604 e, rispidamente, lava o rosto na agua do tanque. Os companheiros de cela ainda dormem. Logo, ele, os outros quinze presos da Operação Lava Jato e os demais detentos do Complexo Médico-Penal de Pinhais, perto de Curitiba, vão ser sacudidos pelo toque de despertar. É a vida no Pavilhão 6”.
Quem leu romances como Papillon ou viu filmes como “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” e “O Expresso da Meia-Noite”, saiu da sala com a sensação de que não há vida pior que a cadeia. A comoção que nos causa a brusca mudança nas vidas dessas pessoas, no entanto, não diminui a gravidade de seus crimes, nem pode substituir o ideal de Justiça que demarca a separação entre o bem e o mal. Desde a Idade Média, passando pela Santa Inquisição, nos acostumamos a aproximar as prisões do inferno religiosamente prometido aos que desobedecem os mandamentos da lei de Deus e, também, da lei dos homens. Basta entender que não há sentimento mais arraigado ao ser humano que a liberdade de ir e vir.
Se, historicamente, as leis já foram mais duras e os castigos, em geral, desumanos e degradantes, dores tão terríveis como a fome e o desespero cultural de quem nasce e cresce sem saída, não foram capazes de despertar a piedade e a solidariedade de muita gente. Compreender, pois, porque é tão imprescindível a igualdade de direitos não é para qualquer um.

São muitos os pavilhões carcerários neste mundo. Mas se para alguns bastasse o que basta ao resto da humanidade, se não existisse tanta ganância, ambição e imediatismo, o Pavilhão 6 estaria vazio e, certamente, aconteceria menos fome e desespero enchendo tantos outros milhares de pavilhões.

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