Editorial JP, 22 de janeiro
Tudo isso, toda essa cidade era de feltro , as moças
jovens empanadas como camarões e o poeta com sua barba branca criando uma nova
linguagem e uma terrível necessidade de embriaguez corrompendo o silêncio. As
casa eram pequenas e nas ruas estreitas de São Luís era como se todos nós, míseros
poetas, morássemos na praça João Lisboa. Dos bares do abrigo até o inferno da
prostituição da rua 28 de julho o poeta gritava a sua dor por Frederico, o
filho final que em paginas de auto imolação ele descrevia.
Difícil é compreender uma poesia nascida e criada
nos becos de São Luís e que desafiou toda a logica da literatura mundial. Sua
barba, seus chinelos, a briga com o grande amor da sua vida Arlete Nogueira da
Cruz Machado porque se negava a calçar sapatos não explicam a tortura de ser
poeta, só poeta e não querer ser nada mais. O brilho daquele homem branco que
gastava sua verve nas barbearias e subia e descia cada uma das ladeiras de São
Luís apenas para dizer “Sei que no alto uma lua renasce sempre em lua, mas em
mim o dia se apaga. Sinto: sei que não vou poder nascer de novo”. O poeta que
discutia com Deus, que descreveu a humanidade como se apenas ele existisse que
não negociava com seus versos, finalmente morreu. Velado nas academias de
letras que ele rejeitou só sabia que em cada esquina dessa cidade Augusto dos
Anjos, T. S. Eliot esperava por ele. E em São Luís ele construía Nova York,
Paris e todas as terras onde a literatura vicejou.
Nauro Machado descobriu que a eternidade pode ser mais
longa do que imaginamos e no seu amor pela loucura e pelo grito escolheu a arte
mais silenciosa que um ser humano pode imaginar . Viveu aqui como se o
apocalipse bíblico lhe ordenasse a acreditar em Deus. Todo o medo de um homem
que não sabia ser homem que só viveu para que a poesia não acabasse fez com que
o acusassem de ser um pequeno burguês. No mesmo ritmo de um Baudelaire
escrevendo as “Litanias de Satã” em Paris o poeta fez o que essa província São
Luís, no fim do mundo, debatesse todas as filosofias. Por mais que se discuta,
ou queiram dizer que seus sentimentos
eram inacessíveis ao comum dos mortais há que entender que os gênios não
escolhem a própria dor. O fato é que a literatura mundial precisava,
urgentemente de um novo discurso, sem opções politicas, sem partidarismo, mas
que representassem uma revolução sem sangue e com novas ideias. “Testamento
Provincial”, “O calcanhar do humano”, “Os órgãos apocalípticos” fazem
parte da história de um poeta que escrevia no cinema e que fazia da solidão um jeito
novo de viver. Não nos culpem por esse orgulho de sentir que, dificilmente,
surgirá em São Luís um poeta que caia
tanto e ame tanto como Nauro Machado amou.
Obrigado, amigo!
ResponderExcluirMeu pai, meu filho, meu amigo, meu poeta, meu irmão, faz muita falta.
ResponderExcluir