Editorial JP, 23 de março
A manifestação de um pai de família, no
recém-inaugurado restaurante popular do São Francisco, abriu o artigo do
governador Flávio Dino do último domingo, no Jornal Pequeno: “Pronto filho,
hoje não vamos dormir com fome”. Essa pungente exclamação do deserdado
patriarca, alcança a sensibilidade à flor da pele daqueles que ainda são
capazes de sentir a dor dos outros.
“Hoje não vamos dormir com fome”. E
quantos ainda dormem, no Maranhão e no Brasil, quantos não sabem o que e se vão
comer amanhã, quantos ainda são tangidos pela fome para a marginalidade e para
a violência. O governador alcança essa terrível realidade “nesses tempos
sombrios da política em que a racionalidade é confrontada com ódios
incompreensíveis”. Para dizer que o objetivo maior para os políticos deve ser
servir ao povo e não lutar desesperadamente por poder.
A fome é uma dor que humilha, uma doença
de escravos e confinados, de vítimas das guerras e da tirania e o mais violento
atentado à dignidade humana. Mas a luta pelo poder faz esquecer o altruísmo e a
grandiosidade da função pública. No Maranhão de hoje, programas como Travessia,
que oferece vans adaptadas para deslocamento de pessoas com deficiência ou
Ninar, dedicado a crianças com microcefalia e outros problemas de
neurodesenvolvimento e, ainda, os IEMA, a primeira rede estadual de ensino
profissionalizante e mais o Programa Escola Digna estão a contribuir para que
os pais de família possam dizer: “Pronto filho, hoje nós não vamos dormir com
fome”.
E cabe ao poder público agir para que o
povo não durma com fome de alimentos, de educação, de saúde, fome de justiça. E
tantas foram e são as fomes neste país, inclusive e, principalmente, de
liberdade que o grito desse pai deveria ecoar nos ouvidos dos glutões
abastados, dos ambiciosos sem limites que, pensando apenas em si mesmos, são
incapazes de produzir justiça social. Um restaurante popular pode até não ser,
em si mesmo, um ato de justiça, mas o grito desse homem é o mesmo “Clamor da
Hora Presente”, que se prolonga, do poeta Nascimento Morais Filho. O clamor dos
desguarnecidos, dos desvalidos pelas desigualdades sociais e pelas tiranias.
“Pronto filho, hoje não vamos dormir com
fome”. Para quem sabe o que é a dor de um filho faminto é este um brado
revolucionário a expor o sufoco da realidade social deste país. E, no Maranhão,
aonde esse grito foi repetido bilhões de vezes, durante dezenas de anos, o restaurante,
assim como a roça da agricultura familiar e as investidas do Programa Mais IDH,
se tornam, sim, um ato de Justiça.
E aí, é só erguer as mãos céus e pensar
na construção de um futuro em que todos nós possamos dizer: “Pronto, filhos do
Maranhão, pronto, filhos do Brasil, a partir de hoje não vamos mais dormir com
fome”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário