quinta-feira, 17 de março de 2016

JM Cunha Santos e a fábula da condição humana*

Boa parte do meu caminho, eu o tenho percorrido sob a inspiração deste companheiro exemplar: Jonaval Medeiros da Cunha Santos, que se assina como JM Cunha Santos.

Por ele sempre tive a maior admiração. Afinal, desde cedo o reconheci como um poeta de rara sensibilidade, que põe seu ofício e sua arte a favor dos marginalizados, dos desvalidos, dos famintos de pão, de justiça e de solidariedade.
É impossível ignorar que a literatura de Cunha Santos é marcada por uma flagrante indignação e protesto contra as injustiças sociais, os regimes autoritários, a censura, a violência, a tortura, a intolerância.
Como em toda arte, também na poesia existem os fora-de-série. É o caso de Cunha Santos. Figura humana fora-de-série, ele é admirável como poeta, jornalista e escritor, personalidade ímpar, de qualidades inegáveis.
Não é demais frisar que Cunha Santos ensinou uma geração inteira de maranhenses a enxergar o sofrimento como experiência poética. Muito ricas são a trajetória e a obra desse escritor genial, que escreve poemas que tratam do sentido da vida, da solidariedade, do amor e da amizade, das angústias, das grandezas e heroísmos da natureza humana.
Às vésperas de completar 60 anos de idade, Cunha Santos – natural de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952 – é hoje reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão.
Escrevi certa vez, em um artigo publicado no Jornal Pequeno, que Cunha Santos – filho de Durval Cunha Santos e de Josefina Alvin de Medeiros – herdou de seus pais a sensibilidade para as lutas populares e abriu espaço nestas lutas para, numa atividade simultânea, dedicar-se à poesia, à música e à reflexão política.
O primeiro poema de sua autoria que fez sucesso em São Luís foi “Mamãe Máquina”, escrito num tempo em que não existiam clones nem bebês de proveta. Foi o início de uma carreira marcada pela obstinação. Autor de “Meu Calendário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes” (1996) e “Vozes do Hospício” (2008), Cunha Santos acaba de escrever mais um livro: “A Comunidade rubra”.
Este novo título, concebido como uma novela política baseada nos livros “Utopia”, de Thomas More e “O Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam, denuncia a corrupção nos nossos dias e, com certeza, irá associar-se, como realização indispensável, aos livros já consagrados de Cunha Santos.
Vale frisar que Cunha Santos é um escritor veterano, tarimbado, um profissional de atuação exemplar. Como jornalista e escritor – já trabalhou como editorialista de diversos periódicos e, desde então, vem fazendo de seu trabalho na imprensa um instrumento a favor do ideal de cidadania e justiça e, em seus escritos, costuma ressaltar a teimosa insensatez dos homens, causadora de crises, guerras, conflitos e opressões.
Como jornalista, profissão que abraçou aos 17 anos de idade e que jamais abandonou, tem sido um grande lutador. Em 1973, entrou no Jornal Pequeno (tinha então 21 anos) como redator-chefe, substituindo seu pai, o velho Durval Cunha Santos. Mesmo sendo um jornalista reconhecidamente lutador, Cunha Santos não esconde de ninguém que prefere a poesia ao jornalismo. Pode-se dizer, sem hesitar, que hoje ele é, essencialmente, um poeta, cronista e editorialista fenomenal.
Já passou pela redação de vários jornais de São Luís, entre os quais “O Diário do Norte”, do ex-deputado federal José Teixeira, o “Diário do Povo”, editado por Nilton Ornellas, onde escreveu as melhores reportagens sociais de sua vida; “O Estado do Maranhão”, à época de Bandeira Tribuzi, Adalberto Areias e Vera Cruz Marques; a velha “Folha do Maranhão”, que era comandada pelo ex-deputado Cid Carvalho, “O Debate”, de Jacir Moraes, e “O Litoral”, de Mary Pereira.
Na condição de editor de Política do “Diário do Povo”, Cunha Santos escreveu inúmeras matérias sobre lutas sindicais, causas populares e publicou uma série de reportagens sobre menor abandonado, intitulada “A geração perdida do Brasil”, denunciando o drama dos cheira-colas que começavam a se multiplicar pelas ruas de São Luís.
Merecedor de todas as homenagens, Cunha Santos tem muito do que se orgulhar. Hoje ele é, sem dúvida, um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns de seus poemas estão entre os mais belos da literatura do país. Seu nome consta no livro “A Poesia Maranhense no Século XX”, antologia organizada por Assis Brasil. É elogiado no livro “A Intelectualidade Maranhense”, de Clóvis Ramos, e tem alguns de seus poemas na “Hora de Guarnicê”, de 1975.
Manso e afável, embora coerente e firme na defesa dos princípios em que acredita, e movido pela paixão em tudo que faz, Cunha Santos teve ainda suas incursões pelo teatro, chegando a fundar um grupo teatral denominado Gpap – Grupo de Estudos e Pesquisa da Arte Popular.
Apaixonado por música e poesia, Cunha Santos vive uma fase em que sua literatura parece essencialmente voltada a suas ilusões, seus sonhos e esperanças – a seus sentimentos sublimes e, também, a suas paixões mundanas.
Com este novo título – “ A Comunidade rubra” -, Cunha Santos lança ao público um texto simples e belo, à altura das tradições literárias do Maranhão. E não cansa de demonstrar o seu amor pela poesia, onde busca forças até para suportar as dificuldades da vida. Ele mantém inalterado o notável talento como escritor, poeta, compositor e jornalista, e o gosto de cantar e de fazer poesias.
Com este novo livro, confirma-se que Cunha Santos é uma das mais importantes figuras da poesia em língua portuguesa surgidas na segunda metade do século XX. E confirma-se também que grandes obras literárias serão sempre fonte de deleite, conhecimento e de vida.

*Este é o prefácio do livro “A Comunidade rubra”

**Manoel Santos Neto é jornalista e escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico Maranhão (IHGM).

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