Editorial JP, 2 de abril
E ouvem os maranhenses, provavelmente
desde que deixamos de andar de barco, as mais incríveis histórias sobre o
Sistema de Transporte Público de São Luís. Histórias sobre mostrengos de lata,
mais cavalgando que circulando, entupidos de passageiros que, ao sol quente do
meio dia, ou estafados do trabalho durante a noite, se espremiam como sardinhas
em lata em insuportáveis horas diárias de uma inevitável via crucis.
Prefeitos vieram e se foram, promessas
foram feitas e desfeitas e as décadas se passaram sem que nunca uma única
solução fosse sequer tentada para resolver um dos mais graves dilemas do povo
de São Luís. A cidade cresceu, às vezes até inchou e a província mal habitada
de outros tempos ultrapassou 1 milhão de habitantes. Ganhou arranha céus, torres
de vidro, hotéis de luxo, milhares de automóveis e... invasões.
Mesmo assim, a situação do transporte
público encontrada quando assumiu o atual prefeito, Edivaldo Holanda, era mais
ou menos a mesma. Um desafio se impunha: aliviar a carga de sofrimento do
espremido e suado povo de São Luís. Só que não era tão simples. Nunca houvera
uma licitação neste setor! O usuário de transporte sequer tinha conhecimento do
que era bilhetagem eletrônica e os monopólios, sustentados muitas das vezes no
financiamento de campanhas políticas, pareciam inquebrantáveis. Havia que ter
coragem para mexer nesse vespeiro, quebrar esse monopólio, ainda mais que por
tantos anos permitido que alguns empresários do setor já se sentiam donatários
dessa concessão do serviço público.
Agora, finalmente, dezenas de anos
depois, o prefeito Edivaldo Holanda lança o edital de licitação do transporte
público de São Luís! Num quadro em que somente 27 empresas, com 864 ônibus e
168 linhas pretendem atender a 550 mil usuários, o compromisso de campanha do
prefeito, a licitação do transporte público, doesse a quem doesse, precisava
ser cumprido. E ele cumpriu!
Não se trata, a licitação do transporte
público, de um simples ato normativo. A livre concorrência permitirá a
substituição imediata de 200 coletivos e em um ano todos os ônibus circulando
na capital estarão climatizados. E a licitação veio depois de vencidas etapas
como a Bilhetagem Eletrônica, o Bilhete Único, o Bilhete Único de Integração
Temporal, a Recarga Embarcada e a Biometria Facial. Além da possibilidade, que
vem com a licitação, de inserção no sistema do ônibus biarticulado.
Uma única gestão e quase tudo que jamais
aconteceu no sistema público de transportes aconteceu agora. E tantos foram os
prefeitos, tantas as reivindicações de vereadores e deputados para que todas
essas etapas se concluíssem sem que nada se concretizasse. A pressa da
população é natural, mas se formos pensar no tempo, é preciso pensar também no
tempo todo das dezenas de gestões passadas, dezenas de anos, em que nada do que
foi feito pelo transporte público de São Luís, nos últimos três anos,
aconteceu.
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