Editorial JP, 19 de abril
Assim que se encerrou na Itália a
“Operação Mãos Limpas”, que mandou para a cadeia mafiosos, empresários e
políticos corruptos, a classe política dedicou-se a confeccionar uma legislação
destinada a torpedear um princípio ínclito em praticamente todas as
Constituições do mundo: o de que todos são iguais perante a lei. Com isso,
criou uma carapaça inoxidável para proteger corruptos de toda ação policial.
No Brasil, mais especificamente no
Maranhão, discute-se, hoje, quais seriam as reais motivações para o apoio do
grupo Sarney ao impeachment da presidente Dilma e demolição do Partido dos
Trabalhadores. Os Sarney, afinal, receberam tudo do PT para garantir a
manutenção do poder no Maranhão. Cargos, ministérios, a cassação de Jackson
Lago, intervenção no PT local e, como bem lembrou o jornalista John Cutrim, um
estelionato eleitoral, a refinaria de Bacabeira, que turbinou a campanha de
Roseana Sarney em 2010.
Por tudo isso, essa é a mais profunda e
estranha traição nesta fase crítica da política brasileira. Estranha, mas
compreensível. Desde a Operação Faktor, quando encheram a barrica com dinheiro
público, parentes, aderentes e encostados de Sarney vivem na mira da Justiça,
do Ministério Público e da Polícia Federal. A única saída para quase todos eles
parece ser a conquista de um foro privilegiado que arraste interminavelmente
seus processos na Justiça.
O ex-secretário Ricardo Murad foi
conduzido coercitivamente para depor na Polícia Federal por determinação da
Justiça Federal. Talvez precise urgentemente de um foro privilegiado. Roseana
Sarney, com o peso das maletas do Hotel Luzeiros e as delações premiadas de Alberto
Youssef, Paulo Roberto Costa, dentre outros, deve precisar de pelos menos umas
três dúzias de foros privilegiados.
O senador Edison Lobão, citado em quase
tudo que envolve corrupção e Lava Jato, já tem foro privilegiado, mas nessas
condições, um só não basta e 50 não serão bastante. Até a terceira geração de
Sarney, o deputado Adriano, em virtude de malversações consignadas no Senado da
República, tem contas a ajustar com a Justiça.
Ninguém duvide de que, no eventual
afastamento definitivo de Dilma Roussef, com tantos políticos no Brasil com a
espada da Justiça sobre a cabeça, o Congresso do corrupto Eduardo Cunha
engendre uma proteção à italiana, uma legislação que condicione os órgãos de
controle a só vigiar, investigar e processar os pobres entre os mais pobres; corruptos,
jamais.
Para este Congresso, com pelo menos 150
parlamentares acusados dos mais diversos crimes, o desmantelamento da
legislação que permitiu a Lava Jato, assim que Temer e Cunha assumirem o poder,
é questão de vida ou morte. Ninguém mais vai querer saber onde Eduardo Cunha
escondeu quarenta milhões de dólares. Entretanto,
encontrar soluções para os incontáveis problemas dos Sarney com o Ministério
Público e a Polícia Federal é tão difícil que, desarmados os espíritos, nos
cabem algumas sugestões: Colocar o velho Sarney na Casa Civil manipulando
marionetes, nomear Roseana Sarney ministra da Justiça, Ricardo Murad ministro da
Saúde e Adriano Sarney superintendente da Polícia Federal no Brasil. Só assim
seus problemas estarão resolvidos. No melhor estilo pós “Operação Mãos Limpas”.
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