Mônica Bergamo
Folha de São Paulo
O diretório do PT deve discutir na terça-feira (19) que Dilma Rousseff
envie ao Congresso Nacional proposta de redução de seu próprio mandato e de
convocação de eleições presidenciais ainda neste ano, junto das eleições
municipais do país.
A ideia é que a presidente anuncie que abre mão de dois anos de mandato
mesmo que chegue a ser inocentada de crimes de responsabilidade pelo Senado,
que julgará se a petista é ou não inocente e se deve ser afastada em definitivo
do cargo, consumando o impeachment.
No mesmo projeto, Dilma estabeleceria que, assim como ela ficou seis
anos na Presidência, o sucessor, escolhido pelo voto direto, teria mandato de
seis anos, sem reeleição.
Há pequenas variações em torno do tema. Alguns dirigentes do PT, por
exemplo, acreditam que Dilma não deve incluir na proposta de eleições a sugestão
de novo período para o mandato presidencial nem o fim da reeleição.
Outros têm dúvidas sobre a conveniência de a própria presidente figurar
oficialmente como autora da proposta ou se o melhor seria ela apenas encaminhar
a sugestão do partido, que seria assinada também por outras legendas.
A ideia de redução do mandato de Dilma e da convocação de "diretas
já", se aprovada no PT, pode ser levada oficialmente à presidente nos
próximos dias.
A proposta conta com apoio entusiasmado de parlamentares do partido e
até mesmo de ministros. Outras legendas já foram informadas e podem aderir a
ela.
O discurso será o de que Dilma busca uma solução para a grave crise
política que o Brasil atravessa, mas que não será resolvida por um presidente,
Michel Temer, que não teria legitimidade por chegar ao poder por meio de um
"golpe", segundo os que defendem a tese, e de forma indireta.
Um presidente eleito diretamente teria legitimidade e maior apoio para
comandar o país em situação tão delicada, defendem. Ao mesmo tempo, acreditam,
a população não seria "excluída" da solução do problema, como
ocorreria no impeachment.
"Quem foi às ruas contra o governo queria Temer na presidência e
Eduardo Cunha como seu vice? O Temer não tem legitimidade. Ele se aproveitou de
manifestações populares para assaltar o poder", diz o senador Lindberg
Farias (PT-RJ). "Ele tem 60% de rejeição e só 1% de votos. Se esse golpe
contra a Dilma se confirmar, não tenho dúvida de que ele cai em seis meses,
pela pressão da população por 'diretas já'."
Ele diz que a bancada do PT no Senado já discutiu a ideia e que a
maioria dos parlamentares dá apoio a ela. Afirma também que já conversou com
senadores do PDT e do PSB, por exemplo, e que um projeto de diretas teria o
apoio de parlamentares de outros partidos.
A proposta também já é discutida na Câmara. O deputado Wadih Damous
(PT-RJ) afirma que "as 'diretas já' são única solução para a crise que
será agravada se vingar esse golpe contra a presidente".
O deputado Alessandro Molon, da Rede, afirma que seguramente o partido
"estaria aberto a discutir a conveniência da proposta, pois já vinha
defendendo a realização de eleições".
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