Até quando vamos ter
que ir buscar nossos próximos presidentes na prisão?
JM
Cunha Santos
O
Brasil está ficando um país assaz interessante e diferenciado. Aonde existe
democracia, existem os primeiro, segundo, terceiro e quarto na linha sucessória,
ou mais. Aqui, a linha é compulsória, sinuosa e quebradiça. Se alguém assumir,
assume na marra. Pior é que a sucessão pode se dar pela ordem das ordens de
prisão. Se fulano for preso, assume o sicrano imediatamente processado no
Supremo Tribunal Federal. Se este também for preso, assume seu colega mais
proeminente nas investigações policiais.
Assim,
as cadeiras estão queimando: “Não senta aí, cara, que se tu sentar mais
depressa sai a tua condenação, bem mais rápido tua sentença transita em julgado”.
Um horror!
Engendra-se,
então, no país, uma engenharia jurídica sufocante para suprir o rito normal da
legislação. Imaginem só advogados se dirigindo à Corte com essa tréplica:
“Meritíssimo, o meu cliente pode sim assumir o cargo, pois da sentença dele
ainda cabem vários recursos”. Meninos, eu vi!
Contado,
ninguém acredita, mas infelizmente é a mais pura verdade. Waldir Maranhão
assumiu o cargo de Eduardo Cunha, mas com uma fileira de vices apenas à espera
do momento em que ele seja afastado pela Justiça para substituí-lo.
Entendendo-se que, se provocada a Justiça, nenhum desses vices permanecerá
muito tempo presidente da Câmara.
Se
Dilma cair, assume o vice Michel Temer que, além de não ter sido eleito,
segundo a Procuradoria Eleitoral é inelegível. E também responde a um processo
de impeachment e pode ser cassado a qualquer momento. E nem perguntem que país
é esse, pois o Renan Calheiros, presidente do Senado, é velho freguês de
processos por corrupção e figura cativa nas investigações da Lava Jato. Também
não conseguiria ser presidente muito tempo.
Deduz-se
daí que qualquer que seja o próximo presidente estará brevemente aposentado,
forçado e compelido a deixar o cargo e não por limite de idade, mas por limite
de corrupção. Se é que nesses dias no Brasil a corrupção tem algum limite. Se
querem saber, esse é o momento mais curioso da história deste país. Trocando em
miúdos: Não podemos ter presidente no Brasil! É de lascar.
Nem
entre os Xukurus de Ororubá o ritual sucessório é tão complicado, embora
acreditem eles e nossos políticos na eterna volta e em ritos de ressurreição.
Chegamos ao tempo em que o mandato de um presidente dura somente o tempo exato
de tramitação de seu processo na Justiça. “Veeeeenha”!
Para
fechar esse rocambolesco concerto, em qualquer tempo a convocação de eleições
gerais será ilegal, ilegítima e inconstitucional. A saída? Quem sabe? Só pela
Marques de Sapucaí com todas as Escolas defendendo o enredo “A vacância da
Presidência e a linha compulsória no Brasil”. E, apesar da aparente alegria
desse artigo, fica mais uma pergunta farfalhando nos ouvidos: Até quando vamos
ter que ir buscar nossos próximos presidentes na prisão?
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