O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse em conversa
gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que apoia uma mudança
na lei que trata da delação premiada de forma a impedir que um preso se torne
delator, procedimento central utilizado pela Operação Lava Jato.
Renan sugeriu que, após enfrentar esse assunto, também poderia
"negociar" com membros do STF (Supremo Tribunal Federal) "a
transição" de Dilma Rousseff, presidente hoje afastada.
Machado e Renan são alvos da Lava Jato. Desde março, temendo ser preso,
Machado gravou pelo menos duas conversas entre ambos. A reportagem obteve os
áudios. Machado negocia um acordo de delação premiada.
Ele também gravou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), empossado ministro do
Planejamento no governo Michel Temer. A revelação das conversas pela Folha na
segunda (23) levou à exoneração de Jucá.
Em um dos diálogos com Renan, Machado sugeriu "um pacto", que
seria "passar uma borracha no Brasil". Renan responde: "antes de
passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível]
fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque
aí você regulamenta a delação".
A mudança defendida pelo peemedebista, se efetivada, poderia beneficiar
Machado. Ele procurou Jucá, Renan e o ex-presidente José Sarney (PMDB) porque
temia ser preso e virar réu colaborador.
"Ele está querendo me seduzir, porra. [...] Mandando recado",
disse Machado a Renan em referência ao procurador-geral da República, Rodrigo
Janot.
Renan, na conversa, também ataca decisão do STF tomada ano passado, de
manter uma pessoa presa após a sua segunda condenação.
O presidente do Senado também fala em negociar a transição com membros
do STF, embora o áudio não permita estabelecer com precisão o que ele pretende.
Machado, para quem os ministros "têm que estar juntos", quis
saber por que Dilma não "negocia" com os membros do Supremo. Renan
respondeu: "Porque todos estão putos com ela".
Para Renan, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato.
"Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan,
queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma
coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral
(ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano.
Renan disse que uma delação da empreiteira Odebrecht "vai mostrar
as contas", em provável referência à campanha eleitoral de Dilma. Machado
respondeu que "não escapa ninguém de nenhum partido". "Do
Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum."
O peemedebista manifestou contrariedade ao saber, pelo senador Jader
Barbalho (PMDB-PA), que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), esteve com Michel Temer em março.
Em dois pontos das conversas, Renan e Machado falam sobre contatos do
senador e de Dilma com a mídia, citando o diretor de Redação da Folha, Otavio
Frias Filho, e o vice-presidente Institucional e Editorial do Grupo Globo, João
Roberto Marinho. Renan diz que Frias reconheceu "exageros" na
cobertura da Lava Jato e diz que Marinho afirmou a Dilma que havia um
"efeito manada" contra seu governo.
OUTRO LADO
Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado informou que os
"diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou
tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso
porque nada vai interferir nas investigações."
Segundo a assessoria, "todas as opiniões do senador foram
publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação, como as críticas ao
ex-presidente da Câmara, a possibilidade de alterar a lei de delações para, por
exemplo, agravar as penas de delações não confirmadas e as notícias sobre
delações de empreiteiras foram fartamente veiculadas".
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