Em seu depoimento prestado nesta
quinta-feira (21) à Justiça em que admitiu o uso de
caixa dois na campanha de Dilma Rousseff, o publicitário João
Santana afirmou que "com generosidade, e com conhecimento de causa, eu
digo que 98% das campanhas no Brasil utilizam caixa dois. Que isso envolve das
pequenas às grandes campanhas. Que centenas de milhares de pessoas - quase
certo que milhões - de todas as classes sociais e de dezenas de profissões são
remuneradas com dinheiro de caixa dois. Mais que isso: o caixa dois é um dos
principais - senão o principal - centros de gravidade da política
brasileira".
Ele afirma ainda "se todos que já
foram remunerados com caixa dois no Brasil fossem tratados com o mesmo rigor
que eu, era para estar aqui, atrás de mim, uma fila de pessoas que chegaria a
Brasília. Uma muralha humana capaz de concorrer com a muralha da China. Capaz
de ser fotografada por qualquer satélite que orbita em torno da terra".
Santana ressalta ainda que, apesar
disso, não defende a prática e que ele e a mulher estão dispostos a pagar por
seus erros.
Leia abaixo a íntegra da fala do
marqueteiro
"Nos últimos meses, eu vi
destruídos, um trabalho e uma imagem pessoal que construí, com muito esforço,
ao longo de mais de 20 anos. Eu entendo porque isso aconteceu. Primeiro porque
escolhi uma profissão fascinante, mas cheia de riscos e incompreensões. Segundo
porque me transformei em um profissional de destaque nacional e internacional.
Terceiro porque meu trabalho esteve ligado, nos últimos anos, a um grupo
político que está hoje sob severo questionamento. O que eu não entendo e não me
conformo é com o fato de eu e minha mulher estarmos sendo acusados,
injustamente, de corrupção, formação de organização criminosa e de lavagem de
dinheiro. De estarmos sendo tratados como criminosos perigosos. E de estarmos
servindo, involuntariamente, aos interesses dos que sempre tentaram ligar o
marketing político a atividades obscuras e antiéticas.
O marketing eleitoral não cria
corrupção, não corrompe, e não cobra propina. Não somos a causa de práticas
eleitorais irregulares. Elas são consequência de um sistema eleitoral
adulterado e distorcido em sua origem. Isto é assim aqui e na maioria
esmagadora dos países. E atinge todos os partidos, sem exceção. Com
generosidade, e com conhecimento de causa, eu digo que 98% das campanhas no
Brasil utilizam caixa 2. Que isso envolve das pequenas às grandes campanhas.
Que centenas de milhares de pessoas - quase certo que milhões - de todas as
classes sociais e de dezenas de profissões são remuneradas com dinheiro de
caixa 2. Mais que isso: o caixa 2 é um dos principais - senão o principal -
centros de gravidade da política brasileira.
Se todos que já foram remunerados com
caixa 2 no Brasil fossem tratados com o mesmo rigor que eu, era para estar
aqui, atrás de mim, uma fila de pessoas que chegaria a Brasília. Uma muralha
humana capaz de concorrer com a muralha da China. Capaz de ser fotografada por
qualquer satélite que orbita em torno da terra.
Mas estaria eu aqui a defender o caixa 2? Jamais!
Erramos e estamos dispostos a pagar
pelo nosso erro. Mas não somos corruptos nem lavadores de dinheiro.
Pelo que já foi apurado, há fortes
indícios de que os crimes da Lava-Jato não estão circunscritos ao caixa 2
eleitoral. Mas no nosso caso nada foi apurado - e nunca será - que não esteja
circunscrito ao caixa 2. Mas estamos presos, tivemos nossa reputação arruinada,
nossos bens bloqueados, nosso patrimônio líquido sequestrado, nossas empresas,
no Brasil e no exterior, ameaçadas de fechar. Tudo, sem que ninguém até hoje
duvide, que aquilo que conseguimos na vida é fruto exclusivo do nosso trabalho.
Somos os únicos presos, neste país, por caixa 2.
Não queremos ser símbolos. Nem bodes
expiatórios. Não quero clemência, nem piedade. Não espero perdão. Espero apenas
proporcionalidade. Espero que Vossa Excia. possa resolver esta grave distorção,
e possa darmos, a mim e a minha mulher, a exata medida da nossa
responsabilidade. É isto - apenas isto - que esperamos da justiça.”
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