Unidade
de tratamento para dependência química funciona na Zona Norte.
Dois suspeitos foram presos e material foi apreendido nesta sexta-feira (10).
Fabiana
Figueiredo Do G1
O Ministério Público do Estado do Amapá (MP)
investiga denúncias de tortura a 42 homens atendidos em uma clínica de
reabilitação localizada no bairro Brasil Novo, na Zona Norte de Macapá. O dono do local e o irmão dele
foram presos nesta sexta-feira (10), pela Polícia Civil.
Materiais que teriam sido usados para supostos
maus-tratos também foram apreendidos na clínica, segundo o MP. Na noite desta
sexta-feira, os pacientes e os suspeitos passaram por exames de corpo de delito
na Polícia Técnico-Científica (Politec), na Zona Norte. Familiares das vítimas
acompanharam a ação no Complexo Cidadão da Zona Sul, localizado na Avenida
Padre Júlio Maria Lombaerd, para onde todos foram levados em seguida.
A clínica estava sendo investigada pelo Núcleo de Inteligência
do Ministério Público (NIMP). As denúncias indicam que os internos sofriam
torturas durante o tratamento contra dependências químicas, com agressões
físicas e psicológicas.
“Era tortura. Eles maltratavam os internos. Eram
todos viciados em álcool e drogas, eram agredidos psicologicamente,
emocionalmente, fisicamente, com uso de algemas, agressões físicas, humilhação,
spray de pimenta, palmatória. Foi tudo apreendido, inclusive medicamentos
vencidos, hoje [10] de manhã. Ainda estamos em investigação. Estamos na
promotoria ouvindo os internos e os dois presos”, informou a promotora Andréa
Guedes.
Os dois presos são o dono da clínica e o irmão
dele, que é o diretor administrativo da unidade. Além dessa, outra clínica para
tratamento de mulheres com dependências químicas, que funciona no bairro Boné
Azul, também na Zona Norte, estaria sendo investigada.
Não foi preso nenhum outro funcionário. A ação
contou com o apoio da equipe de Captura da Polícia Civil. De acordo com Andréa,
a clínica não será fechada por enquanto e deve passar por fiscalização.
“A clínica não vai ser interditada ainda, mas ela
vai ser fiscalizada tanto pelo MP quanto pela Vigilância Sanitária. Dos 42
internos, eu creio que somente 12 vão voltar agora à noite. Os outros vão ser
liberados para serem entregues à família”, informou a promotora.
Familiares
Parentes das supostas vítimas falaram ao G1 que não imaginavam
que os internos eram torturados. O irmão de um paciente de 34 anos, internado
há 6 meses na clínica, que não quis ser identificado, contou que, em setembro
de 2016, desconfiou do tratamento.
Segundo ele, o irmão teve uma crise de abstinência
e precisou ser contido, mas que a posição da clínica foi com violência. As
agressões teriam sido nas costas dele, com pauladas e “pranchadas” de terçado.
O interno só teria contado à família nesta sexta-feira o que aconteceu à época.
“A gente não acreditava nele, porque a família já
passa tantas coisas com o interno, que quando a gente coloca na clínica é o
último estágio. Eu não queria perder meu irmão. A gente coloca ele lá para sair
melhor, ressocializado, e, do nada, a gente descobre isso. A maioria dos
familiares é a mesma história. A gente não quer acreditar e fica a dúvida”,
contou.
O irmão da vigilante Cristiane Santos, de 35 anos,
tem 20 anos e estava internado na clínica havia 3 meses. Em todo esse período,
segundo ela, ele era torturado.
“Ninguém sabia o que ele estava passando lá dentro.
Quando a gente ia visitar ele, sempre tinha alguém acompanhando, como se
ficasse vigiando. Uma vez o monitor foi ao banheiro e meu irmão falou que não
sabíamos o que ele passava lá dentro, mas que não queria que a gente reclamasse
de nada. Como ele é dependente químico, achávamos que ele estava inventando
isso para poder sair”, disse Cristiane.
De acordo com a vigilante, em janeiro, um dos
internos conseguiu fugir da clínica e falou das torturas para a família dela, o
que aumentou a desconfiança dos parentes.
“Ele falou que eles eram torturados, andavam de
joelhos em cima de pedras, dopavam eles de todo jeito. Meu irmão foi para lá e
voltou pior. Ele está assustado, magro, só comia calabresa e mortadela, e a gente
pagava R$ 1 mil todo mês, e a cada 15 dias, ainda mandávamos material de
higiene pessoal”, reclamou Cristiane.
O caso ainda segue em investigação pelo Ministério
Público.
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