JM Cunha Santos
Aturdido, desativado, menos humano, eis
como me sinto diante de facínoras capazes de atentar contra as vidas de
crianças. O que aconteceu em Manchester, Reino Unido, durante show da cantora
Ariana Grande é mais um sinal de que a humanidade faliu. Filosoficamente,
sociologicamente, politicamente, religiosamente, em nada somos melhores que
panteras ensandecidas, lobos carniceiros e urubus devorando tripas. Chegamos a
um estado de selvageria que ultrapassa tudo o que a natureza inicial possa ter
proposto.
Qual o crime de crianças de 8 anos para
serem alcançadas pela vingança “divina” de satanazes em busca do poder? O homem
continua machucando, desossando, escangotando, esquartejando e explodindo
crianças enquanto propõe para si mesmo o paraíso eclesiástico de todos os
prazeres e nenhuma dor. Não há o que explique isso. Não há guerras nem
injustiças, não há história nem loucura que possam justificar a fúria hedionda
e patológica de deixar crianças em pedaços. Não são homens bombas, são monstros
bombas e eu não consigo entender que acreditem ser gente, que ousem se sentir
filhos de algum Deus ou de qualquer outro ser nos céus ou na face da terra.
De todas as barbaridades históricas, do
canibalismo ao nazismo, da tortura ao racismo, essa que explode ou troteia sorrisos
inocentes é a que mais nos deixa sem alma. São mães procurando pelas pernas de
seus filhos, pelos braços, pelos pensamentos, pelos sorrisos que derreteram no
fogo da crueldade. E há quem assuma a autoria de atentados como este como se
fora uma glorificação infinita, a tonsura para a eternidade, o caminho aberto
para um paraíso que, se Deus permitir, não vai estar lá.
E enquanto aprendemos a construir
infernos, meninos nas frentes dos tanques e meninas ensanguentadas, que sequer
sabem porque vieram parar aqui, sobrevivem ao mal-estar de crescer entre
adultos.
Nego-me, pois, a continuar sendo humano.
Não quero que me chamem assim. Não aceito. Não permito. Digam que sou qualquer
coisa, qualquer bicho, um lagarto, uma cobra, um mosquito, um vírus, uma bactéria,
um lombrigoide. Não me trará nenhuma revolta. Só não me chamem de gente. Eu não
quero mais.
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