sexta-feira, 9 de junho de 2017

A agricultura familiar e as estrelas perdidas

JM Cunha Santos


Quem quiser perceber a evolução de um modelo político, muito especialmente em tempos de crise, deve atentar para as ações de governo que influenciam diretamente as vidas das pessoas; buscar as diferenças que superam a desnutrição, a insegurança alimentar, as dificuldades de mobilidade, o analfabetismo e o analfabetismo funcional, os limites impostos, pela distância e pelo distanciamento, à saúde pública, a inclusão dos esquecidos no rol da sociedade que come, se organiza, se educa, produz e tem renda e, com isso, readquire a solapada dignidade.
Essa nova situação maranhense ficou muito perceptível durante a Solenidade de Fortalecimento da Agricultura Familiar no Maranhão, ocorrida no último dia 7, no Palácio Henrique de La Rocque, e que não é a primeira. Naquela ocasião, 51 trabalhadores rurais do município de Bom Jardim recebiam títulos de terra, dando sequência a uma série de ações de governo que em nada lembram os tormentosos tempos da especulação imobiliária, da grilagem criminosa, da diáspora contra o homem do campo, da pistolagem, das cadeias dominiais geradas em cartórios de falsificação em favor de grandes proprietários de terras e das desapropriações milionárias regadas ao preço de propinas.
Foi uma solenidade simples, de gente simples recebendo trituradores de capoeiras para evitar as queimadas e a garantia do acesso à terra, a tecnologias para eles surpreendentes, patrulhas agrícolas, lanchas, carros e quadriciclos para a Agerp, tratores, cartões do Programa de Aquisição de Alimentos para a Agricultura Familiar e espaços de comercialização de seus produtos.
Em tudo o que se percebe, o governo está trocando monstros de cimento pelo alívio nos corações humanos. O direito à propriedade, o direito de plantar sem sustos, o direito de vender e comprar e, muito especialmente, o direito ao trabalho honesto e à dignidade de ser um cidadão produtivo na sociedade.
“Vivemos um dos momentos mais difíceis deste país. O Maranhão perdeu R$ 400 milhões em transferências federais”, contou o governador Flávio Dino relacionando outras iniciativas no sentido da geração de riquezas. Finalizaria referindo-se, mais uma vez, a esse momento de escuridão nos céus do Brasil, para dizer que, mesmo na escuridão, precisamos olhar as estrelas e que a agricultura familiar é uma dessas estrelas.
E os maranhenses sabem que muitas estrelas se perderam nos céus desse estado durante a subgestão corrupta do sarneisismo. A estrela da educação era de palha, a estrela da saúde era uma fraude bilionária, a estrela da segurança queimava sob o fogo do crime organizado e só brilhava, solitária e onipresente, a estrela da corrupção.

E ao assistir à ressurreição da estrela da agricultura familiar, tanto tempo ofuscada pela escuridão dos interesses patrimoniais, ao ver a terra em mãos de quem trabalha nela, é impossível não acreditar num futuro melhor; ao ver gente outrora sem comida comendo, novas tecnologias, comercialização, produção e distribuição de renda, torna-se possível pensar que, a despeito de todas as crises, a cada dia é possível acender uma nova luz.

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