JM Cunha Santos
Não sei se é porque vivi os rigores de uma ditadura militar no Brasil e ainda vivo o de outra, civil, no Maranhão, mas sinto cheiro de golpe a quilômetros de distância. Eu avisei que Roseana Sarney ficou com sede de sangue depois da derrota que lhe foi imposta por seus próprios soldados na Assembléia Legislativa. E há, hoje, uma minoria na AL, coordenada da periferia do Palácio dos Leões, agindo para, passo a passo e de surpresa, provocar uma ruptura institucional tematicamente violenta no Poder Legislativo.
É. Eu sinto o cheiro. Eu conheço esse cheiro. Tem pólvora e suor de carne de porco, tem naftalina velha, odor de farda usada, fedor de covardia, o mau cheiro de coisa combinada nos porões.
Seguem, os revoltosos, o mesmo rito de todos os golpes de Estado. Primeiro, a degradação da República, no caso, a própria Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão. Em seguida, o desmonte moral do governante, o presidente do Poder, Arnaldo Melo.
Vejo ali os mesmos ingredientes que antecedem todos os golpes de Estado: coação, coerção, chantagem, tentativa de extorsão até que se chegue à desculpa ideal para desalojar quem está no poder. Faltam apenas os facões e as baionetas, mas querem sangrar primeiro moralmente para que, consumado o golpe, não exista ninguém em defesa do deposto.
Não buscam, os golpistas, implantar um novo regime. Singularmente, querem apenas a deposição do líder, só forçar uma transição política usando como arma o terror psicológico. Vejam só: de uma hora para outra pagar almoço de pescador virou corrupção. E no Maranhão, meu Deus do céu! No Maranhão, comer configura ato de improbidade administrativa! Fosse eu dizer as coisas estranhas que já foram pagas nesse Estado...
Na verdade, o presidente do Poder Legislativo virou o lugar da bala, o bode expiatório de uma guerrilha travada entre grupos distintos dentro do governo. Arnaldo Melo parou, sem querer, bem no meio de um tiroteio em que todo mundo atira pelas costas. Por ser presidente da AL e apenas por isso, Arnaldo Melo foi escolhido para ser fuzilado por vários grupos em escaramuça no entorno do Palácio dos Leões. De nada valerá sua conduta política inatingível em seis mandatos de deputado, se há um motim generalizado e incontrolável dentro do governo e ele preside o poder encarregado de fiscalizar o governo. As bombas que, pela covardia dos kamikases, evitam explodir no colo de Roseana Sarney vão cair todas no seu colo. Ele é o lugar da bala. Sua única saída é organizar seu próprio exército, reforçar sua Bastilha e entrar na guerra. Mas prefere continuar falando de paz.
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