Que loucos somos nós
JM Cunha Santos
Houve um tempo, mais precisamente nos idos do século XIX em que não se fazia diferenciação entre delírio, alucinação e loucura. Foi um longo debate entre psicólogos, psiquiatras, evangélicos até que se encarasse o delírio e a alucinação tal como nos dia de hoje.
Michel Focault, em sua “História da Loucura na Idade Clássica” chegou a acusar os psiquiatras de medicalizarem a loucura, deixando de reconhecer o que o delírio pode trazer de criativo e original.
Mas esse é um debate que hoje não se resume aos grandes estudiosos da mente humana. Cada vez mais desarranjos mentais vão surgindo à medida que o homem se moderniza e avançam os recursos da tecnologia. Mas o que é um louco? É apenas alguém que não faz aquilo que a maioria indignada da sociedade faz todos os dias. Não poderia, por exemplo, ser considerado louco um homem sem salário que engravida sua mulher todos os anos? É muito tênue o fio entre a normalidade psicossomática e a loucura. Dois seres humanos nunca contemplam uma flor com o mesmo olhar e nessa busca tediosa de descobrir onde se localizam cada uma das funções do cérebro é que se enganam os cientistas.
Concluímos, hoje, que a loucura é a coisa mais normal do mundo. Há loucos nas clínicas, há loucos nas ruas, mas há também loucos nos governos, mandando bombardear cabeças de crianças e mulheres inocentes.
Não seria eu, com o quase total desconhecimento da Psicologia e da Psiquiatria a encontrar aquele fio tênue de que falávamos acima. A loucura pode ser percebida até nos acontecimentos do dia a dia. Em uma discussão de trânsito quando alguém dispara um tiro e mata outro ser humano; as notícias de estupro e de violência doméstica estão todos os dias na televisão. Estas são as loucuras dos homens normais ou são as loucuras que os verdadeiros loucos seriam incapazes de cometer?
São milhões de homens confinados por que seus cérebros, de uma hora para outra, passaram a funcionar de uma forma diferente. Eles são loucos e por isso não vêm a rosa, Vêm apenas que um dia ela e ele não mais vão existir.
O único objetivo dessa crônica é fazer com que os homens comecem a pensar em suas próprias loucuras, em seus exageros, na tirânica luta pelo poder. E ao final desta crônica eu mesmo me pergunto: serei eu um louco?
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