Larissa
1
Se aos ombros nus da minha filha triste
houver peso maior que aos meus, injusto
descontarei a dor na plebe que me assiste
chorar em duplo chão, sentenciar-me o susto
Se hora houver em que trespasse a mágoa
de ser, além de mim, a tantos que não sou
de ser um poço seco vazando na água
um balde de ternuras e mil latas de amor
Se à alma azul da minha filha amada
faltarem anjos mostrando o caminho
cavalgarei suas ilusões em disparada
até chegarem os bondes de carinho
e apagarei o céu que o céu não será nada
se o universo todo serei eu sozinho
2
Se aos sonhos sacros de minha filha triste
sonhos houverem como os meus, cansados
e se pardais sem corpo a fizerem de alpiste
removerei as folhas para os desonrados
Se ao derredor do coração sem paz os lírios
a mim desobrigarem mais desilusões
me vingarei dos deuses com os meus delírios
e da maldade humana com alucinações
Se andarilhos suarem minha filha triste
e se eu chorar às portas dos seus seios
se as dores deprimirem sua alma diste
à hora de quebrá-la no fogo de anseios
perguntarei a ti, oh Deus que não me viste
porque se sofre tanto em corações alheios
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