domingo, 26 de fevereiro de 2012

Larissa

1

Se aos ombros nus da minha filha triste

houver peso maior que aos meus, injusto

descontarei a dor na plebe que me assiste

chorar em duplo chão, sentenciar-me o susto

Se hora houver em que trespasse a mágoa

de ser, além de mim, a tantos que não sou

de ser um poço seco vazando na água

um balde de ternuras e mil latas de amor

Se à alma azul da minha filha amada

faltarem anjos mostrando o caminho

cavalgarei suas ilusões em disparada

até chegarem os bondes de carinho

e apagarei o céu que o céu não será nada

se o universo todo serei eu sozinho

2

Se aos sonhos sacros de minha filha triste

sonhos houverem como os meus, cansados

e se pardais sem corpo a fizerem de alpiste

removerei as folhas para os desonrados

Se ao derredor do coração sem paz os lírios

a mim desobrigarem mais desilusões

me vingarei dos deuses com os meus delírios

e da maldade humana com alucinações

Se andarilhos suarem minha filha triste

e se eu chorar às portas dos seus seios

se as dores deprimirem sua alma diste

à hora de quebrá-la no fogo de anseios

perguntarei a ti, oh Deus que não me viste

porque se sofre tanto em corações alheios

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