Sinais exteriores de riqueza

JM Cunha Santos

“Ousei demais. Deixei transparecer minhas conquistas materiais. Agora eles podem me pegar. A qualquer momento posso ser objeto de investigação do Ministério Público, pois já sabem que tenho um par de sapatos comprado na Di Petrus, de uma marca que só os especiais usam e que custa mais de 200 reais, que tenho um óculos Ferrovia e uma calça ferro não sei o quê”.

“Eles já sabem de tudo. Observaram, fotografaram. Sabem que minhas camisas trazem a marca Pierre Cardin, (mesmo que sejam piratas) que eu ando tomando uísque de 12 reais a dose em locais públicos. Não podia ter feito isso. Entreguei nas mãos deles as provas de meu enriquecimento - se não ilícito, pelo menos surpreendente”.

“Eles viram meu tênis e sabem também que com o salário de jornalista jamais eu poderia comprar um desses, que ele tem embaixo aquelas rodinhas que evitam problemas na coluna. Descobriram até que eu já posso usar perfume da Boticário, que ando jantando em restaurantes de 16 reais o Kg e certamente vão colocar tudo isso no processo contra mim”.

“Dificilmente vou escapar da Justiça, a mídia vai me chamar de corrupto, os advogados não vão querer minha defesa. Eu errei muito. Deixei que eles soubessem de tudo quando já tinha certeza de que eram meus inimigos. Gente ligada a eles viu filé na minha casa, viu compotas de pêssego. Meus sinais exteriores de riqueza ficaram tão evidentes que dificilmente vou conseguir me manter no cargo”.

“Pior vai ser se eles descobrirem sobre minhas cuecas importadas, que falam por conta própria e aumentam a libido. Aí vai ser um Deus nos acuda. Sei que eles vão fingir que não acreditam e que a Justiça não vai aceitar minhas argumentações, mas posso jurar que isso nada tem a ver com o cargo de Presidente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa. É mera coincidência. Eu juro que é”.