Editorial do Jornal Pequeno, sexta-feira, 20 de março.
A fauna política brasileira, de raposas a cães amestrados, de pássaros a tubarões, acha-se atarantada com a disposição da presidente Dilma Roussef em não se deixar chantagear, emparedar pelo Congresso Nacional como fizeram Lula e Fernando Henrique Cardoso. Os conselhos das raposas e suas reações, pelo menos aparentemente, não interessam nem assustam a presidente que, impassível, impõe, com apoio da população brasileira, um novo jeito de governar.
Há quem julgue que a presidente pisa em terreno minado. O ex-presidente Collor de Melo chegou a fazer insinuações insanas ao afirmar que seu impeathcment foi conseqüência de um péssimo relacionamento com o Congresso. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Os partidos políticos no Brasil é que são fisiológicos; eles é que não sobrevivem sem favores do Governo e não o contrário. E Dilma, ao despachar ministros corruptos, ao substituir líderes no Congresso e minar as forças do trio Sarney/Jucá/Renan, levanta o moral da classe média, combalido por uma inevitável sensação de impotência diante do cósmico poder da corrupção no Brasil.
Vai doer muito mais nas raposas a ausência das galinhas dos ovos de ouro que vice-versa. Trata-se de uma gente que não sabe fazer política sem chantagem, sem o toma lá da cá, sem práticas submersas de extorsão. Foram todos criados sob a égide do carreirismo, do nepotismo, do empreguismo, do intervencionismo. Sem esses expedientes, suas vidas se tornarão bucólicas e o exercício da política praticamente insuportável. Sem fuçar em funções, cargos e verbas públicas alguns destes animais políticos morrerão de tédio e solidão funcional.
Uma simples declaração do novo líder do Governo, Eduardo Braga, cala fundo nas pretensões de uma classe média revoltada com as proporções dos desvios que acontecem no país. “A verdade é que o Brasil vem passando por uma transformação econômica e social, mas ainda não tinha feito o enfrentamento das antigas práticas políticas”, disse. E ele nem esconde que a presidente está em busca de gente mais qualificada para a interlocução com o Governo Federal.
Mas se falamos de bichos, como raposas e cães amestrados, o melhor é não esquecer os marimbondos, que agem em grupo e, assim como os cupins, são insetos sociais capazes de sobreviver a muitas intempéries. Aliados das raposas e cães amestrados, eles costumam agir contra o Brasil, sem qualquer escrúpulo, se correm algum risco de perder o mel que os alimenta. O mel de todos eles é a corrupção. E haja inseticida para combater a corrupção no Brasil.
Os sonhos de mudança deste país não estarão concretizados enquanto não mudarem as práticas políticas, enquanto as raposas ditarem as regras se servindo de cães e marimbondos para defendê-los.
Os movimentos da presidente Dilma contra essa fauna que desserve a democracia, constrange as instituições públicas, saqueia os cofres da Nação podem, no decorrer do tempo, atingir até mesmo o Partido dos Trabalhadores que, sob os auspícios do presidente Lula, adotou as mesmas práticas que Dilma insiste em combater. É hora de fechar o zoológico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário