quarta-feira, 23 de maio de 2012

A greve indesejada

Editorial, Jornal Pequeno – Edição de 23 de maio

A greve dos rodoviários ganhou proporções alarmistas nesta segunda-feira esvaziando o serviço público, o comércio as grandes, médias e pequenas empresas e provocando um sério desfalque na economia maranhense.

Não se sabe, até o momento, o que levou os motoristas de transportes coletivos a descumprirem a determinação da Justiça do Trabalho obrigando a permanência de 50% do efetivo de transportes em circulação. Mas a primeira desculpa que vem à mente é o temor das depredações que começaram a ocorrer logo nos primeiros dias do movimento paredista.

Num país em que, por inconsistência ideológica e funcional, até os policiais fazem greve, não admira que esse enfrentamento tenha chegado ao nível que chegou. Todo o sistema de transportes de São Luís participa do blecaute. Além de 100% da frota, os motoristas são seguidos em seu propósito pelos cobradores e fiscais. Uma situação difícil para os funcionários públicos, profissionais liberais e todas as demais categorias de trabalhadores.

Patrões e empregados não se entendem porque é da natureza deles não se entenderem nunca. Mas o reajuste de 7% proposto pela Justiça parece ter irritado profundamente a categoria. Pior é que o sindicato patronal entende por absurdo o reajuste proposto pelo Tribunal Regional do Trabalho.

São Luís era, ontem, uma cidade esvaziada. Se for possível aos rodoviários, como prometem, manter 6 mil trabalhadores em assembleia permanente, enquanto o comando de greve aguarda por melhores propostas, São Luís perderá em poucos dias a funcionalidade. O fato é que uma das partes tem que ceder e que os mediadores precisam encontrar uma solução para o impasse. Os prejuízos causados por uma greve prolongada no setor de transportes coletivos podem ser incalculáveis, sem contar que essa é uma paralisação que atinge primeiro o mais singular dos direitos: o direito de ir e vir.

O problema maior com o setor de transportes coletivos é que ele, quase em sua totalidade, é uma concessão pública. Essa greve atinge a população, intimida os patrões e coloca em xeque a autoridade do município. Diferente de outras, essa é uma categoria que tem o poder de paralisar todas as outras. São professores que não vão dar aulas, enfermeiros que não chegam aos hospitais, funcionários públicos que não chegam a suas repartições, estudantes que não comparecem à escola, policiais que não chegam aos quartéis, enfim, podem instalar o caos em qualquer cidade do país. E, o que é mais grave, não há profissionais capacitados que possam substituir, de uma hora para outra, por muito tempo, tamanho contingente de motoristas. É talvez, a mais indesejada de todas as greves.

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