Processo de investigação de
paternidade foi aberto na 2ª Vara da Família, de Brasília, pela servidora
federal Silene Araujo
Advogado de José Sarney pediu a
suspensão do processo e não fala sobre o caso, alegando segredo de Justiça
Osvaldo Viviani/Jornal Pequeno
Há quase 10 meses, tramita sob sigilo no Tribunal de Justiça do Distrito
Federal (TJ-DF) um processo de Ação de Investigação de Paternidade (AIP)
envolvendo o ex-presidente da República e do Senado Federal José Sarney
(PMDB-AP), 82 anos.
O processo foi aberto em 4 de maio de 2012, na 2ª Vara de Família, em
Brasília, sob o número 2012.01.1.063782-8. Na inicial do processo, documento ao
qual o Jornal Pequeno teve acesso, a servidora federal Silene do Socorro
Nogueira Araujo, de 54 anos, nascida no município maranhense de Itapecuru-Mirim
(a 120 quilômetros de São Luís), afirma, por meio de seus advogados, ser filha
biológica de Sarney e pede a realização de um exame de DNA.
No documento, os advogados da proponente, Helbert Maciel e Leonardo
Augusto Raulino Pereira – com escritório em Teresina (Piauí) –, relatam que
José Sarney teve um envolvimento com a mãe de Silene, Izaura Nogueira Araujo,
em Itapecuru, 'nos idos de 1957', sendo que, como fruto desse relacionamento,
segundo a inicial do processo, nasceu Silene, em 18 de maio de 1958.
Diz a inicial:
'O vistoso jovem de Pinheiro (MA), radicado em São Luís, aos 27 anos já
titular da cadeira 22 da Academia Maranhense de Letras e promissor deputado
federal pela UDN, além de advogado de escol, se encanta com a linda morena que
conhecera por essas viagens políticas.
Em outubro de 1958, haveria eleições para a Câmara dos Deputados, e ele
tentaria obter o primeiro mandato próprio, não mais suplente como então.
Católico fervoroso, inteligente, culto, sagaz no trato político, não foi
difícil ao jovem deputado conquistar o coração de Izaura, quiçá 'Saraminda'.
José Sarney passou a visitar com frequência, não apenas por interesses
políticos-eleitorais, Itapecuru-Mirim. Izaura, por vezes, em períodos de
eleições, oportunidades para encontros, ia de avião a comícios em cidades
próximas, muito embora fato incomum, mormente naquela época, a pessoas de
poucas posses'.
Hoje divorciada, Silene Nogueira Araujo tem duas filhas – uma de 33,
outra de 34 anos –, e mora atualmente num bairro de classe média de Recife
(Pernambuco).
De férias em São Luís (onde tem parentes), Silene aceitou falar ao JP:
'Minha mãe, até sua morte, em 2003, aos 72 anos, guardou segredo sobre
quem era meu pai. Ela nunca me falou nada. Mas eu cresci ouvindo as pessoas que
conviviam com ela sempre mencionando seu relacionamento com o Sarney, que ele a
levava nas campanhas políticas, até de avião. Também falam até hoje da minha
semelhança física com Roseana [Sarney, filha do senador, atual governadora do
Maranhão. Minha infância e adolescência foram normais. Só achava estranho minha
mãe nunca me falar nada sobre meu pai. Cresci sem essa referência da figura
paterna, mas sempre fui tratada como uma princesa. Nunca me faltou nada, embora
minha mãe fosse muito pobre. Tanto que aos 15 anos pude sair de Itapecuru para
frequentar o Liceu Maranhense, em São Luís, onde terminei o Segundo Grau'.
Silene fez questão de enfatizar ao JP que seu maior interesse com o
processo para investigação de paternidade 'não é financeiro e sim para
esclarecer a verdade'.
Também afirmou que só está quebrando o segredo de Justiça – que ela
mesma pediu – porque 'o senador Sarney está tentando obstaculizar o processo de
todo jeito, usando de todo o seu poder para que ele não vá adiante'.
O JP apurou que José Sarney, por meio de seu advogado, Eduardo Antônio
Lucho Ferrão, já comunicou à Justiça que não aceita fazer o exame de DNA
voluntariamente, e entrou, em setembro, com um agravo regimental para
interromper a tramitação do processo. Os advogados de Silene recorreram e ambas
as partes aguardam a decisão judicial sobre o agravo.
Outro lado – Contatado pelo JP, o advogado Eduardo Ferrão respondeu, por
e-mail enviado no início da tarde de sexta-feira (22):
'É regra legal inafastável que o advogado não pode comentar quaisquer
processos por ele patrocinados e que tramitam sob segredo de Justiça'.
Silene encontrou Sarney numa
igreja, em São Luís, e lhe disse: 'Sou tua filha'
Num trecho da inicial do processo de investigação de paternidade
envolvendo José Sarney, os advogados da proponente, Silene do Socorro Nogueira
Araujo, relatam um encontro que ela teve com o senador, na Igreja de São Luís
Rei de França, no Calhau, em 2011. Veja:
'Igreja de São Luís Rei de França, Calhau, São Luís, 4 de junho de 2011.
Missa comemorativa dos 100 anos [que teria, caso viva] de dona Kyola, mãe do
senador José Sarney.
Um sorriso brotou no semblante firme do presidente do Senado Federal.
Sorriso terno, sob o vistoso e característico bigode. Mas também sorriso
intrigante, seguido por passos seguros – entre familiares, assessores e
seguranças –, por cumprimentos efusivos, partidos de amigos, transeuntes e
políticos.
E do sorriso restou a certeza. É a autora filha do réu!
A prova pericial científica assim esclarecerá'.
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