Editorial
JP, 21 de fevereiro
Versaria
o termo Justiça sobre a igualdade de todos os cidadãos. Nela estaria implícito
o princípio básico de um acordo que objetiva manter a ordem social através da
preservação dos direitos, em sua forma legal, isto é, de acordo com a
constitucionalidade das leis ou em sua aplicação direta aos litígios
decorrentes da convivência social. Assim, a Justiça poderia ser reconhecida por
mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais ou por intermediação
através dos tribunais e em ordem de equidade.
No
Maranhão, infelizmente, não é assim. Não quando um desembargador, Bayma Araújo,
irritado com a tentativa do Tribunal de Justiça de abrir um incompreensível
processo investigativo contra o ilibado juiz Fernando Mendonça, assim se
pronuncia: “ao invés de estarmos aqui causando constrangimento a um juiz sério,
nós deveríamos era estar apurando denúncias contra juízes que não julgam
processos e os que vendem sentenças, ao que se faz vista grossa”.
O
retruco do juiz corregedor, Cleones Cunha de Carvalho, de que o que chega ao
seu conhecimento é apurado e que só pode apurar uma denúncia concreta, é o que
menos importa no visível mal estar social que essa recorrente discussão
provoca. Infelizmente, esta não é apenas a fala de um desembargador revoltado
com os rumos que toma a Justiça do Estado. É o que se espraia em comentários na
sociedade, é o que, como fato e denúncia, já chegou aos jornais, inclusive,
como frisaria o próprio desembargador Bayma, com a proposta de compra de voto
de um desembargador.
Uma
antiga estátua da Justiça, na cidade de Berna, aparece cega, pois deve a
Justiça ser isenta e imparcial, carregando a balança onde são pesadas as provas
e testemunhos e erguendo a espada que representa o exercício do poder de
decisão. Parece que em se tratando do Maranhão a estátua é um tremendo erro de
cálculo e projeção. São tantas as denúncias desse tipo que se torna mais aceita
a conclusão de que a justiça maranhense é caolha, que a balança em suas mãos
não é Filizola, pois falível em suas medidas e aquela espada não é feita de aço
de boa qualidade, pois verga, dependendo do poder que detenha quem está em
julgamento.
A
única coisa positiva em toda essa história é que as disputas e diferenças
localizadas entre desembargadores no TJ impedem a ocultação de fatos
vergonhosos e criminosos como vendas de sentenças, alienação de decisões em
litígios, o que nos torna, à sociedade, reféns de máfias bem localizadas no
poder público e fora dele. Nesse ambiente sedicioso, de leviandade legal, a espada
da Justiça se torna a principal arma do crime e o crime passa a ter cúmplices
dentro da própria Justiça que deveria julgá-lo. Recorra-se ao Papa que, aliás,
renunciou.
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