Editorial
JP, 21 de março
Ouro
de tolo é o nome que se dava na Idade Média às promessas dos falsos
alquimistas; é também o nome de uma canção através da qual o inevitável Raul
Seixas traduz o inconformismo de uma sociedade farta de promessas falsas,
seguindo a explosão da contracultura assinada com a quase unanimidade da canção
“Imagine” de Jhon Lenon. Como “ouro de tolo” podem ser traduzidas também as
constantes e esvaziadas promessas de redenção econômica do Maranhão.
O
alumínio da Alcoa, anunciada aqui como uma das mais poderosas multinacionais do
mundo, seria a redenção econômica desse pobre estado na década de 70. Mereceu o
combate intransigente e ideológico do poeta Nascimento Morais Filho e da
juventude intelectual da época, se apossou de milhares de hectares de terras,
ganhou décadas seguidas de isenção fiscal, até apoiou algumas manifestações
culturais, mas o Maranhão e seu povo permaneceram tão pobres quanto eram antes
da Alumar.
A
Vale do Rio Doce também nos foi apresentada como redenção econômica do estado.
O minério de Carajás, o ouro de Serra Pelada, construíram a imagem de trens
carregados de fortunas incalculáveis que trariam o progresso e o
desenvolvimento econômico definitivo. O Maranhão se tornaria uma espécie de
Meca da exportação de minério com conseqüências positivas diretas na qualidade
de vida dos maranhenses. Esses dois empreendimentos gerariam milhares de
empregos, mão de obra qualificada. Seria o fim da pobreza no Maranhão.
Na
eleição de 2010 os alquimistas fincaram algumas estacas em Bacabeira e caímos
todos no conto da Refinaria, o prêmio definitivo da economia maranhense, o
sonho megalomaníaco do petróleo refinado escorrendo para os bolsos e contas
correntes do empobrecido povo do Maranhão. Foi a pior das esparrelas, pois a
Alumar e a Vale do Rio Doce, mesmo desembarcando seus lucros monumentais em
outras paisagens, pelo menos se instalaram aqui. O prometido refino de 600 mil
barris diários de petróleo, o empreendimento de fantásticos U$$ 20 bilhões,
desidratou, é apontado por especialistas apenas como um formidável erro de
cálculo da Petrobrás.
Diz
Graça Foster, presidente da Petrobrás que o projeto da Refinaria não subiu no
telhado. Não subiu, mas caiu. Na cabeça dos maranhenses. Diz Wagner Freire,
ex-diretor da Petrobrás que a Refinaria no Maranhão foi uma decisão política,
para agradar aliados, sem suporte técnico nem econômico e que deve ser revisto,
independente de adiamento ou não.
E
está aí o povo maranhense, ludibriado, “com a boca escancarada, cheia de
dentes”, esperando a Refinaria chegar. E tudo não passou de ingerência política
do Governo Federal (leia-se Lula) para garantir a eleição de Roseana Sarney.
Mas, como diria Bob Dylan, “os alquimistas ainda estão no corredor”,
transformando em ouro a miséria do Maranhão.
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