sábado, 17 de agosto de 2013

Rede de corrupção

Editorial JP, 17 de agosto

A expressão “a verdade eleitoral” foi reconduzida ao debate político na manhã de ontem durante palestra do cientista político Wagner Cabral. Mais do que situar a Reforma historicamente, o professor espalhou verdades, disse nomes, colocou em xeque o financiamento privado de campanhas no Brasil. E deixou claro, pelo que se pode absorver de sua exposição, que na maioria das vezes a verdade eleitoral, ou seja, a vontade do eleitor, não emana das urnas no Brasil e, muito especialmente, no Maranhão.
Nossas eleições são compradas, desvirtuadas por interesses de grupos econômicos, financeiros e políticos. Conclui-se, pois, que a corrupção eleitoral está na gênese do processo democrático brasileiro. O eleitor, em geral, é pobre, analfabeto e desesperado. O voto comprado à vista ou através do contrato temporário de trabalho, do emprego e do subemprego, do financiamento de festejos, do patrocínio subrepticio de eleições em associações e sindicatos, esconde interesses financeiros monumentais e o professor Wagner deu exemplo de alguns deles.
Quando disse, por exemplo, que o Banco Itau, a mais lucrativa instituição financeira do país, financia campanhas políticas em todos os partidos, pois seu interesse é manter o modelo econômico que lhe garante tanto lucro; quando contou que o ex-bilionário Eike Batista doou R$ 1 milhão para a campanha de Roseana Sarney como pessoa física, mas em contrapartida mantém na ilha de São Luís, criminosamente, uma termelétrica com aprovação rudimentar da Secretaria Estadual de Meio Ambiente; quando mostrou que a bancada ruralista defende interesses de empresas como a Suzzano Papel e Celulose que em alguns municípios financia duas ou mais candidaturas a prefeito em uma única eleição; quando registrou que a corrupção eleitoral sustenta um majestoso, caro e extorsivo mercado imobiliário no Maranhão com a aquisição de prédios, mansões e apartamentos comprados com dinheiro público.
A essa intricada rede de corrupção eleitoral associam-se, ainda, os famigerados convênios, sobre os quais não falou o cientista e o que ele mesmo chamou de “agiotagem política brutal” que permite o controle por parte dos agiotas das secretarias de finanças de muitos municípios. Em meio a essa poderosa rede de corrupção, a vontade do eleitor some e a verdade eleitoral desaparece.
Se vamos alcançar ou não a almejada Reforma Política que a classe média está a exigir em manifestações constantes nas capitais do país, é incerto. Mas pelo menos a reforma está sendo discutida abertamente, sem censura. Foi debatida, ontem, na Assembléia Legislativa do Maranhão e está sendo debatida no Congresso Nacional. No Brasil Império, no Brasil Colônia, mo Brasil das ditaduras e no Brasil da redemocratização a Reforma Política não foi possível. Quem sabe poderemos consegui-la no Brasil das manifestações públicas digitais.

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