Editorial
JP, 17 de agosto
A
expressão “a verdade eleitoral” foi reconduzida ao debate político na manhã de
ontem durante palestra do cientista político Wagner Cabral. Mais do que situar
a Reforma historicamente, o professor espalhou verdades, disse nomes, colocou
em xeque o financiamento privado de campanhas no Brasil. E deixou claro, pelo
que se pode absorver de sua exposição, que na maioria das vezes a verdade
eleitoral, ou seja, a vontade do eleitor, não emana das urnas no Brasil e,
muito especialmente, no Maranhão.
Nossas
eleições são compradas, desvirtuadas por interesses de grupos econômicos,
financeiros e políticos. Conclui-se, pois, que a corrupção eleitoral está na
gênese do processo democrático brasileiro. O eleitor, em geral, é pobre,
analfabeto e desesperado. O voto comprado à vista ou através do contrato
temporário de trabalho, do emprego e do subemprego, do financiamento de
festejos, do patrocínio subrepticio de eleições em associações e sindicatos,
esconde interesses financeiros monumentais e o professor Wagner deu exemplo de
alguns deles.
Quando
disse, por exemplo, que o Banco Itau, a mais lucrativa instituição financeira
do país, financia campanhas políticas em todos os partidos, pois seu interesse
é manter o modelo econômico que lhe garante tanto lucro; quando contou que o
ex-bilionário Eike Batista doou R$ 1 milhão para a campanha de Roseana Sarney
como pessoa física, mas em contrapartida mantém na ilha de São Luís,
criminosamente, uma termelétrica com aprovação rudimentar da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente; quando mostrou que a bancada ruralista defende
interesses de empresas como a Suzzano Papel e Celulose que em alguns municípios
financia duas ou mais candidaturas a prefeito em uma única eleição; quando
registrou que a corrupção eleitoral sustenta um majestoso, caro e extorsivo
mercado imobiliário no Maranhão com a aquisição de prédios, mansões e
apartamentos comprados com dinheiro público.
A
essa intricada rede de corrupção eleitoral associam-se, ainda, os famigerados
convênios, sobre os quais não falou o cientista e o que ele mesmo chamou de
“agiotagem política brutal” que permite o controle por parte dos agiotas das
secretarias de finanças de muitos municípios. Em meio a essa poderosa rede de
corrupção, a vontade do eleitor some e a verdade eleitoral desaparece.
Se
vamos alcançar ou não a almejada Reforma Política que a classe média está a
exigir em manifestações constantes nas capitais do país, é incerto. Mas pelo
menos a reforma está sendo discutida abertamente, sem censura. Foi debatida,
ontem, na Assembléia Legislativa do Maranhão e está sendo debatida no Congresso
Nacional. No Brasil Império, no Brasil Colônia, mo Brasil das ditaduras e no
Brasil da redemocratização a Reforma Política não foi possível. Quem sabe
poderemos consegui-la no Brasil das manifestações públicas digitais.
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