Ao som da oração latina do compositor César Teixeira, e dos aplausos de
militantes de movimentos sociais e da esquerda maranhense, Manoel da Conceição
e Maria Aragão (in memoriam) foram homenageados como símbolos de resistência e
luta contra as atrocidades cometidas durante o período de Ditadura
civil-militar no Brasil e no Maranhão.
A Assembleia Legislativa homenageou os homens e as mulheres maranhenses
que foram censurados, torturados, exilados e mortos durante a Ditadura Militar,
nas figuras do líder camponês Manoel da Conceição e da médica comunista Maria
José Aragão.
O deputado estadual Bira do Pindaré (PSB) foi o autor do requerimento
que solicitou a realização, na manhã desta quinta-feira (03), da sessão solene
em homenagem as vítimas da Ditadura Militar e em memória dos 50 anos do golpe
de 1964.
Ao lado do deputado Bira, presidente da sessão, compuseram a mesa do
evento: Vagner Baldez, representando o instituto Maria Aragão; a ex-deputada
estadual Helena Barros Heluy; Eurico Fernandes da Associação de Saúde da
Periferia e Manoel da Conceição – maior líder camponês da história do Maranhão.
Ao abrir os trabalhos da sessão, o deputado Bira apresentou um breve
relato histórico da conjuntura política que levou os militares brasileiros, o
Governo dos Estados Unidos da América, grande parte da classe empresarial
brasileira, algumas Igrejas e proprietários de conglomerados de comunicação a
apoiar, acobertar e financiar o golpe e a Ditadura.
O parlamentar lembrou que resquícios do período sangrento ainda estão vivos
na sociedade brasileira. Bira citou a Lei da Anistia que nunca foi revogada e
mantêm impunes torturadores e assassinos que serviam a Ditadura Militar. O
socialista também lembrou a militarização da Polícia e o maior malefício que o
golpe militar deixou para o Brasil, à Oligarquia Sarney.
“A maior e mais longeva oligarquia do Brasil é a do Maranhão e ela é
filha da Ditadura Militar. Causa-me espanto as ideias reacionárias que voltam
na sociedade, a marcha da família com Deus foi um prenúncio do Golpe em 64 e se
repetiu há poucos dias. A Ditadura Militar não resolveu e não resolverá os
problemas do Brasil”, destacou Bira.
Bira ressaltou o trabalho de resgate da memória que vem sendo realizado
na Casa Legislativa pela atuação da Comissão Parlamentar da Verdade. A Comissão
maranhense ouviu diversas vítimas da Ditadura e descobriu que a antiga sede da
Polícia Federal, no centro de São Luís, servia como local de torturas.
O Deputado garantiu que solicitará a Secretaria Nacional de Direitos
Humanos a transformação da antiga sede em um local de memória e visitação.
Todas as informações levantadas pela Comissão do Maranhão foram entregues, em
relatório, para a Comissão Nacional da Verdade em Brasília.
Em um segundo momento do evento, todos os presentes assistiram documentários
do cineasta Murilo Santos sobre a vida de Manoel da Conceição e Maria Aragão. O
deputado Bira entregou placas de homenagem a Manoel da Conceição e a Vagner
Baldez – representante do Instituto Maria Aragão.
Vagner Baldez agradeceu a homenagem e falou do legado de luta social de
Maria Aragão, no Maranhão. Ele também lembrou a figura do pernambucano Gregório
Bezerra e do baiano Carlos Marighella na luta e na resistência contra a
Ditadura Militar, no Brasil. Baldez cumprimentou o deputado Bira por nunca ter
servido e se curvado às elites e a oligarquia do Maranhão.
O representante do Instituto Maria Aragão afirmou que se a médica
comunista estivesse viva ela estaria triste, pois a frase que está colocada em
uma das paredes do plenário da Assembleia, de autoria de José Sarney: “Não há
democracia sem parlamento livre” é uma vergonha. No entendimento de Baldez,
Sarney é um oligarca, filho da Ditadura Militar e não é digno de tal frase.
Para Manoel da Conceição a solenidade tem sua importância para a permanente
luta dos trabalhadores pelos direitos e contra a perseguição dos poderosos.
“Queremos a liberdade fraterna e solidária para todos. Não podemos parar de
lutar pelos direitos dos trabalhadores e espaços assim são importantes para
animar nossa jornada”, destacou.
Eurico Fernandes e a ex-deputada Helena Barros Heluy lembraram outras
pessoas vítimas da Ditadura Militar e ressaltaram que a luta contra a fome, a
miséria, o analfabetismo e pela reforma agrária continua. Helena lamentou a
ausência de outros parlamentares na sessão solene, destacou as consequências do
golpe, segundo ela, ainda vivas na sociedade brasileira e afirmou que viu e
nunca mais quer ver coisa parecida com a Ditadura no Brasil.
A Ex-deputada também apelou para que a Assembleia Legislativa exija da
Câmara Municipal de São Luís a devolução do mandato do então vereador José
Maria Machado Santos, cassado pela Ditadura Militar. O deputado Bira garantiu
que fará uma indicação à Casa Legislativa municipal solicitando à devolução.
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