JM
Cunha Santos
Eu
posso lembrar de um outro tipo de Justiça que os “atacados” cometiam contra
jornalistas no Maranhão e no Brasil. Eu posso lembrar que o jornalista Othelino
Nova Alves foi assassinado em praça pública, que o Jornal Pequeno foi depredado
por jagunços a serviço do poder. Eu posso lembrar que meu próprio pai quase foi
morto também.
Será
esse o outro tipo de Justiça a que se refere Edinho Lobão?
Sim,
eu posso lembrar de todos os tipos de Justiça já cometidos contra jornalistas.
Posso lembrar do jornalista Vladimir Herzog, torturado até a morte nos porões
da ditadura militar. Eu posso lembrar quantos textos meus foram apagados,
substituídos ou simplesmente sumiram das páginas dos jornais. Lembrar que tive
de percorrer todo o quartel da Polícia Militar de um lado para outro e fui
ameaçado porque denunciei um caso de tortura em plena campanha eleitoral. Posso
lembrar o grande número de jornalistas que perderam seus empregos e até
passaram fome porque denunciaram a corrupção neste país.
Será
esse o outro tipo de Justiça a que se refere Edinho Lobão?
Eu
posso lembrar. E é por lembrar que saúdo esse novo tipo de Justiça que não permite
que condenados sejam candidatos no Brasil.
Pois
consigo lembrar um tipo de Justiça que proibia advogados de advogar, promotores
de denunciar e juízes de julgar. E também proibia jornalistas de escrever.
Será
a esse tipo de Justiça que se refere Edinho Lobão?
Eu
posso lembrar de jornalistas marcados para morrer que tiveram de deixar o
Maranhão. Eu posso lembrar as angústias de meu pai e do jornalista Ribamar
Bogéa quando quase tudo era proibido dizer.
Eu
posso lembrar de um país fechado, cercado de dedos-duros no qual profissionais
de imprensa eram obrigados a engolir jornal. Dos coronéis de chicote nas mãos,
da polícia política, de mães e esposas chorando de medo e de jornalistas
desaparecendo no ar ou apanhando em via pública. Eu posso lembrar dos
pistoleiros, dos assassinos de aluguel cobrando silêncio.
Mas
posso lembrar também que neste país novo judicializam a imprensa com multas e
indenizações impagáveis.
Mas
sei que a criança que passa em minha porta, faminta, sem saúde, drogada, sem
educação e sem futuro é vítima dos corruptos que temos a obrigação de denunciar.
E
mais uma vez me sento e escrevo. Escrevo com medo de escrever, mas escrevo.
Mais uma vez me sento e falo no rádio. Falo com medo de falar, mas falo.
Porque
ontem, como hoje, essa é a tua Justiça, Edinho Lobão.
Esse Lobãozinho tem o mesmo pensamento do pai que era um lambe botas dos generais da ditadura. Filho de Lobão, Lobãozinho é.
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