Editorial
JP, 22 de julho
Na
origem do que aconteceu com uma equipe de jornalismo do Fantástico no município
de Anapurus está a permissividade dos ataques contra a imprensa no Maranhão; na
origem do esquema de corrupção
denunciado, está a indecência de um modelo político que se acostumou a
vencer eleições com maços de dinheiro, conforme fotos e vídeos amplamente
mostrados em sites e blogs depois do ataque.
A
imagem construída de brucutus cercando repórteres da Globo e avançando sobre as
câmeras, na solidão de municípios bem distantes dos grandes centros do país, dá
uma idéia do terror que eles viveram e do que poderia ter acontecido se não
tivessem se identificado imediatamente como funcionários da todo-poderosa Rede
Globo. Foi um crime cometido por policiais, por parentes de prefeitos, altos
funcionários de municípios maranhenses. E aconteceu porque o cerceamento da
liberdade de imprensa no Maranhão se tornou uma banalidade, na medida em que o
poder e o tráfico de influência corroeram as instituições.
Ninguém,
no mundo político desse Estado, espera castigo por afrontar jornalistas, por
perseguir profissionais de imprensa. E aí estão como exemplo as dezenas de
processos e os ataques que o Jornal Pequeno já sofreu. A permissividade dessa
política de terror herdada do coronelismo e da ditadura, que limita o
noticiário, castra o jornalismo de opinião, silencia emissoras de rádio, privilegia
a omissão e a mentira, levou as autoridades de Mata Roma e Anapurus a cometerem
a estupidez de atacar repórteres da Rede Globo. Não são jornalistas do
Maranhão, mas eles não souberam ver a diferença e estão às voltas agora, além
da CGU, com a Polícia Federal.
O
tom da matéria foi fulminante. “O bando cercou os repórteres. Dois bandidos
entraram no carro”. Bandidos? “Os ladrões fugiram em dois veículos levando as
câmeras”. Ladrões? E havia entre eles dois policiais, o irmão de um ex-deputado
que já foi secretário do município, um sobrinho da prefeita Tina Teles, de
Anapurus. O mais provável é que um jornalista maranhense que assim se
expressasse iria parar na cadeia.
E
essa imagem revelada para o Brasil e para o mundo na reportagem do “Fantástico”,
de um Maranhão atolado na corrupção, na pistolagem, no banditismo político, na
capangagem, resfria o coração nativista de quem realmente ama o Maranhão. O
castigo de Deus, porém, se impõe porque as verdades que estamos proibidos de
escrever, as imagens que somos proibidos de divulgar, as palavras que estamos
proibidos de falar, parecem ter ganho o poder de sair sozinhas pelo mundo, sem
nenhuma conexão com a “Boca do Inferno” para denunciar esse verdadeiro regime
de terror.
E
o Brasil sabe agora que enquanto alguns poucos arrotam riqueza, o povo
maranhense não dispõe sequer de uma privada onde diluir seu constrangimento e
sua decepção.
Parabéns,
José Sarney!
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