sexta-feira, 18 de julho de 2014

Tremor no setor energético


Editorial JP, 18 de julho

Em outros tempos, doleiro era apenas alguém que negociava dólares, uma pessoa qualquer enfiada em casas de câmbio, atenta às altas e baixas de todas as moedas. Com o passar do tempo, muitos se tornaram agentes de governos, passaram a ser usados por grandes empresas envolvidas em corrupção, inclusive estatais, inclusive no Brasil.
O conhecimento das entranhas bancárias, das relações financeiras internacionais, fez com que doleiros fossem cada vez mais usados para enterrar dinheiro público roubado à Nação em paraísos fiscais e para intermediar negociatas que jamais seriam concluídas sem a conseqüente lavagem de dinheiro roubado ao povo empobrecido deste país. Tornaram-se importantes no Congresso, nas estatais, passaram a negociar às escusas diretamente com governadores e ministros e o que era uma profissão virou palavrão.
Alberto Youssef, o doleiro preso aqui depois de sucessivas viagens a São Luís, em circunstâncias nunca explicadas de forma convincente, teve seu sigilo bancário, telefônico, fiscal e telemático quebrado pela CPI Mista do Congresso Nacional que investiga a Petrobrás, maior empresa estatal do país e administrada pelo Ministério das Minas e Energias, cujo titular é o maranhense Edison Lobão. É acusado Youssef de movimentar, junto com Paulo Roberto Costa, executivo da Petrobrás que também está na cadeia, 10 bilhões de reais.  É tanto dinheiro que até se estranha seu interesse nos míseros precatórios do Maranhão. Parece que quando se trata de corrupção e miséria no Brasil o Maranhão não fica fora de nada, aparece envolvido em tudo de alguma forma.
Soubemos, ontem, que os olhos do Tribunal de Contas da União repousam desconfiados e atentos sobre o Ministério das Minas e Energias e que o ministro titular e vários diretores do setor energético têm noventa dias para dar um monte de explicações. As investigações vêem de toda parte. Do TCU, da CPI, da Polícia Federal que prendeu o doleiro no Maranhão. E a quebra de sigilos atinge diversas empresas relacionadas pela Polícia Federal e apontadas como parte do esquema de lavagem de dinheiro no qual Costa e Youssef são acusados.
Não é só a Petrobrás. O setor energético inteiro pode sofrer uma devassa histórica no entrelaçamento das investigações. O setor energético que provocou uma disputa acirrada entre e dentro do PMDB e do PT depois que Sarney anunciou sua saída da vida pública. O governo perdeu o controle da CPI Mista, posto que os 16 parlamentares da comissão aprovaram à unanimidade os 80 requerimentos postos em votação, de ontem para hoje.
O relógio da bomba começou a contagem regressiva e o Maranhão que se prepare, pois é quase certo que  estilhaços dessa explosão no setor energético venham bater aqui. A Petrobrás parece ser o estouro da boiada dessa eleição e há chifres demais apontando na direção desse Estado. Fora do circuito, Sarney não tem mais como intervir para evitar a explosão e nem Lula é mais presidente para garantir a impunidade da corrupção.

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