quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Raju

Editorial JP, 9 de outubro

 
Em alguns e-mails, a história do elefante Raju enviada por uma ativista em defesa dos animais, Elisabeth Macgovers, emociona o mundo inteiro. O animal passou 50 anos acorrentado na Índia por pessoas que pediam dinheiro para exibi-lo triste e um tanto quanto faminto. Uma exposição que denuncia o poder cruel da mente humana sobre o enorme paquiderme que nem entende porque o querem amarrar.
A história do enorme paquiderme por algum motivo lembra a história de um ciclo de poder que se findou no último domingo no Maranhão. Um povo imenso e bom tolhido em seus principais movimentos por pessoas que não o alimentavam direito e, através dele, o povo, enriqueciam cada vez mais.
O tamanho do elefante não o impede de ser um animal inocente e dócil que só precisa de espaço para mover seu imenso corpo sem machucar ninguém. O povo maranhense não quer machucar, não quer ferir, só quer o alimento da educação e da saúde, da segurança de que também não permanecerá acorrentado a ambições desmedidas e o espaço de se sonhar grande, respeitado em seus direitos e aspirações.
Raju foi libertado por enquanto, mas seus donos buscam num dos tribunais da Índia a reintegração de posse para que outra vez o possam amarrar e vender sua grandeza, sua enormidade aos que estiverem dispostos a pagar. Sete milhões de maranhenses também se desvencilharam das correntes e aguardam, agora, quem trate de suas feridas e os deixe livres para crescer ainda mais. Da mesma forma que o elefante, este povo cansou de domadores que os obriguem a repetir o tempo todo os mesmos gestos e de ser aplaudido por não ser capaz de reagir. Reagiu.
Se nem um elefante consegue ser feliz num curral, menos ainda o será um povo submetido a sol e chuva, sem a água imprescindível, sem banheiros, sem o direito de aspirar a um futuro sem correntes, cercado só pelos olhares da ambição de pessoas que não se preocupam com seu bem estar.
Ao final, a ativista pede apenas nossa assinatura num abaixo assinado que corre o mundo exigindo a liberdade e o fim dos maus tratos contra Raju. O povo maranhense, afinal o elefante da imaginação de um país inteiro, também acorrentado durante 50 anos, acaba de assinar a sua própria liberdade. Lutou, protestou, trocou e-mails, ocupou as redes sociais e os canais de televisão e se livrou das correntes sem medo dos tribunais.
Sim, é preciso realizar as aspirações de Raju, da mesma forma que é preciso realizar as aspirações desse povo também grande, também forte e dócil que, como um elefante acorrentado, sobrevive a tanto tempo na imaginação do Brasil.

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