Editorial
JP, 19 de novembro
Em entrevista ao portal IG, o governador eleito, Flávio Dino defendeu a instauração de uma Constituinte exclusiva para tratar das reformas política e tributária. A reforma tributária é como um calo num sapato apertado para o povo brasileiro, que paga, muitas vezes sem retorno, a maior carga de impostos do mundo. A reforma política pela primeira vez se assemelha inevitável em vista do descarrilamento do trem da corrupção exposto pela operação Lava-Jato.
Em entrevista ao portal IG, o governador eleito, Flávio Dino defendeu a instauração de uma Constituinte exclusiva para tratar das reformas política e tributária. A reforma tributária é como um calo num sapato apertado para o povo brasileiro, que paga, muitas vezes sem retorno, a maior carga de impostos do mundo. A reforma política pela primeira vez se assemelha inevitável em vista do descarrilamento do trem da corrupção exposto pela operação Lava-Jato.
A
organização criminosa de políticos, doleiros e executivos de empreiteiras, que
não é de hoje, revelada nas investigações, impõe a reorganização
político-administrativa do país. Habitamos uma República de salteadores que não
pode ser mantida sob pena de fulminar a normalidade democrática ou, no mínimo,
levar o país a um estado de insolvência civil. No prescindir da ética no trato
com a coisa pública, por parte das mais insuspeitas autoridades, a revolta
popular já desconhece nível de instrução e classe social. E não são poucos os
que começam a temer pelo que possa acontecer vir a acontecer no Brasil.
Ao
desembeste da corrupção institucionalmente instalada que, não fosse a presença
incontestável de uma “Nova Justiça”, o patriotismo do Ministério Público e a
competência da Polícia Federal, estancaria a maior estatal do país, a reforma
política é inadiável, mas deve ser
também inevitável. Ao tempo em que o valor das ações da Petrobrás cai como
manga podre, o governador eleito acredita que corruptos e corruptores serão
punidos. Com a agravante de que, desta vez, os agentes econômicos estão sendo
investigados e grande parte deles está na cadeia. Sem a reforma política,
entretanto, tudo o que terá sobrado dessa gosma antiética será a punição. Sem a
reforma política, entretanto, outros agentes públicos e econômicos e outros
doleiros estarão aptos a repetir este que é o mais triste episódio da história
política brasileira.
Sobra
à evidência, conforme frisou Miguel Reali, que o financiamento privado de
campanhas eleitorais, torna irrecuperável o sistema político. E o escândalo da
Petrobrás expõe o câncer generalizado do sistema político brasileiro. Reali, a
exemplo de Flávio Dino, também defende uma Constituinte do sistema político,
mas a exigência das reformas extrapolou os umbrais da intelectualidade mediana e chegou aos
movimentos sociais, aos sindicalistas e às comunidades.
Pode
até ser que o povo não compreenda a influência nefasta do poder econômico nas
eleições, mas já entende que a corrupção tem a máxima culpa dos hospitais
entupidos, das escolas ultrajantes, de todas as fomes e misérias que moram sem
pagar aluguel neste país. Os protestos de junho de 2013 são um indicativo
perfeito dessa compreensão.
No
Brasil, existem pessoas que têm a coragem de roubar recursos da merenda escolar
das crianças. E vão existir enquanto a punição não for rigorosa, enquanto a
legislação subestimar práticas criminosas, enquanto o sistema político for
irrecuperável e não se eliminar o mais maligno câncer do Brasil: a
corrupção.
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