terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As Repúblicas de Ali Babá

Editorial JP 23 de dezembro

Quem foi criança e aprendeu a ler neste país nos últimos 50 anos não esquecerá jamais o grito de “Abre-te Césamo”, pronunciado por Ali Babá, o ladrão romântico dos contos das mil e uma noites. Ao deixar a gruta, o personagem gritava a plenos pulmões: “Fecha-te Césamo” e esse novo repto fechava a montanha onde se guardavam os tesouros da rapinagem, dos furtos e assaltos cometidos pelos 40 da quadrilha que ninguém conseguia prender.
Quando lemos a lista dos políticos citados na delação premiada pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa e divulgada pelo jornal “O Estado de São Paulo”, fica difícil não comparar a gruta de Ali Babá com o Palácio do Planalto. Ministros, ex-ministros do governo Dilma, deputados, senadores, governadores e ex-governadores ocultos na gruta da impunidade, aliados a empresários corruptos e corruptores saquearam impiedosamente a Nação.
Estão nessa lista o presidente do Senado, Renan Calheiros, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney,  o ministro maranhense das Minas e Energias, Edison Lobão e a própria ex-ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman. São, todos eles, representantes das principais instituições públicas do país. Em outras palavras, avacalharam tudo, transformaram a República brasileira numa espécie de República de Ali Babá, com a diferença de que, no caso, são as autoridades do país que gritam “Abre-te Césamo” e “Fecha-te Césamo” enquanto enterram em suas contas os tesouros do povo como, por exemplo, a saúde, a segurança e a educação.
No Maranhão, entretanto, há dois sinais positivos de que as instituições buscam se proteger e proteger a população dessas organizações criminosas. Um deles vem das palavras do presidente do TRE, Fróes Sobrinho, no instante mesmo da diplomação dos eleitos, para quem “é preciso varrer a corrupção e a agiotagem do Maranhão”; o outro sinal parte do governador eleito, Flávio Dino, que promete combater a corrupção, as desigualdades sociais e acena com auditorias nas secretarias do Estado. De fato, depois do que assistimos nos últimos meses não se pode ter mais nenhum tipo de contemplação com a corrupção neste país, principalmente no Maranhão.
Em seu discurso, o governador eleito citou dados do PNAD segundo os quais o Maranhão é o estado com maior número de pessoas em situação de insegurança alimentar. Em outras palavras, a fome ainda ronda metade da população maranhense. Fome: na definição do governador eleito palavra forte, aguda, cortante, que não podemos esquecer.
“Fecha-te Césamo”. E é, de fato, preciso fechar para sempre essa montanha, essa gruta de corrupção e agiotagem onde tantos se esconderam durante tanto tempo, imunes à Justiça, vivendo como nababos, fazendo do Brasil e do Maranhão verdadeiras Repúblicas de Ali Babá.

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