sábado, 6 de dezembro de 2014

O mal dos séculos

JM Cunha Santos

 

A poesia estraga dentro de mim
e não encontro meios de trazê-la à tona
A poesia embrutece, comprime lá dentro
busca buracos de saída em minha alma
mas continua presa lá, solitária e mal
 
Se fosse eu um bom ladrão
teria direito a uma cruz ao lado de Cristo
mas sou um poeta, nem sequer sou notícia
Se fosse eu um assassino ou um psicopata
seria mais defendido, amado, respeitado, teria
 advogados e psicólogos tentando me entender
se ninguém ousa entender ou defender poetas
 
A poesia estica dentro de mim
tenta romper os vasos, o corpo, os sentidos
mas só consegue me sujeitar e oprimir
porque não sai, fica, grita-se e me padece;
A poesia é um castigo milenar
A poesia é um poder horroroso
dado só aos escolhidos para viver o desumano
 
A poesia não sai de dentro de mim e eu,
embuchado de tantas rosas, cruzes e estrelas,
só vomito espinhos, fogo, auto-piedade, morte
e sei: da poesia nada nem ninguém me salvará
Jamais.

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