JM
Cunha Santos
A
poesia estraga dentro de mim
e
não encontro meios de trazê-la à tona
A
poesia embrutece, comprime lá dentro
busca
buracos de saída em minha alma
mas
continua presa lá, solitária e mal
Se
fosse eu um bom ladrão
teria
direito a uma cruz ao lado de Cristo
mas
sou um poeta, nem sequer sou notícia
Se
fosse eu um assassino ou um psicopata
seria
mais defendido, amado, respeitado, teria
advogados e psicólogos tentando me entender
se
ninguém ousa entender ou defender poetas
A
poesia estica dentro de mim
tenta
romper os vasos, o corpo, os sentidos
mas
só consegue me sujeitar e oprimir
porque
não sai, fica, grita-se e me padece;
A
poesia é um castigo milenar
A
poesia é um poder horroroso
dado
só aos escolhidos para viver o desumano
A
poesia não sai de dentro de mim e eu,
embuchado
de tantas rosas, cruzes e estrelas,
só
vomito espinhos, fogo, auto-piedade, morte
e
sei: da poesia nada nem ninguém me salvará
Jamais.
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