Editorial
JP, 27 de maio
Algumas
pessoas imaginam que um processo na Justiça é pouca coisa, principalmente para
pessoas ricas, com muitos advogados, recursos e embargos de toda espécie à sua
disposição. Nesta tese, não haveria sofrimento para acusados de corrupção, pois
as firulas da lei e os trâmites judiciais lhes garantiriam a impunidade. No máximo, são obrigados a gastar muito
dinheiro o que, afinal, lhes sobra e não falta nunca.
Mas
Roseana Sarney está sofrendo, está sofrendo muito. Estão sofrendo Edison Lobão
e João Abreu, desde que a “Operação Lava Jato” descobriu um formidável
escândalo de corrupção na Petrobrás. Eles enxergam, desde o escândalo do
Mensalão, que a Justiça mudou e no Brasil de hoje, políticos e ricos
empresários podem, sim, ir parar na cadeia, mesmo que seja por pouco tempo.
Para
quem viveu o luxo dos tapetes persas, dos perfumes franceses, consumiu
especiarias, vagou de jatinhos e helicópteros pelo mundo, imaginar-se restrito
a uma cela é um sofrimento sem fim. Eles pensam que José Dirceu, José Genoíno,
homens fortes do governo, ficaram presos tempo demais e... se imaginam lá.
Com
Sarney fora do poder e com esses juízes e promotores implacáveis, Roseana se
desespera. A visão ridícula dos maiores e mais ricos executivos do país vagando
pelas ruas ornados por tornozeleiras eletrônicas, deve destruir seus nervos
sistematicamente. Não importa se vai ser uma prisão top de linha; não é para
ela. Não para Roseana, a filha do eterno imperador, a costumada a todos os
luxos da vida e todos os confortos do poder.
E
as acusações sobre Roseana e Lobão se acumulam, pesam, tiram o sono. Os
advogados não estão conseguindo arquivar o processo, como conseguiram no caso
de Fernando Sarney. Uma auditoria no Estado já conclui que ela é culpada, o
procurador-geral da República insiste no indiciamento dos políticos. Um destino
sombrio assombra todas as premonições da antes governante do Estado. O processo
do Petrolão atiça a opinião pública, revolta a população. Há um movimento
nacional nas ruas do país pedindo as cabeças dos corruptos, a Justiça não
parece disposta a contrariar o povo e os que já foram presos não querem pagar a
conta de tão malfadado esquema sozinhos.
A
manchete de seu jornal, “População com medo”, soa muito mais como uma
transferência psíquica, no melhor estilo Criminal Minds, que como impacto da
verdade, pois a julgar pelo desfile de terror ocorrido em São Luís durante seu
governo, o medo era muito maior. Os sintomas desse medo estão em todos os
lugares. O PMDB, seu partido, se autoflagela em corrosivos discursos na
Assembleia e esquece que precisa de forças para protegê-la. Seu endinheirado
marido, Jorge Murad, não atende mais telefonema de seu ex-chefe da Casa Civil,
João Abreu, o primeiro suspeito.
Não
é a população, é Roseana quem está com medo. É Lobão quem treme mais do que
vara verde. Medo do que possa está gravado nos circuitos internos dos hotéis,
medo do que possa dizer João Abreu, medo da Justiça. Medo da lei.
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