quinta-feira, 11 de junho de 2015

Patadas institucionais

Editorial JP, 11 de junho
Sarney assumiu o governo do Maranhão em 1965, um ano de cassações brutais, marcado pela edição de atos institucionais e suplementares e supressão das garantias constitucionais no Brasil. E criou gosto pelo absolutismo governando num Brasil capado democraticamente; primeiro pelos Atos Institucionais n 2, 3 e 4 e solidificando sua força política no país na esteira do famigerado AI 5. Nunca mais conseguiu suportar a democracia, desde que, como presidente da Arena, lhe foi permitido indicar governadores e prefeitos no Maranhão e até em outros estados. Nessa condição, se tornou o maestro civil de uma orquestra política implacável com todo tipo de oposição.
Que, pois, ninguém se engane. A Bíblia de Sarney é um evangelho de adesismos e tiranias. Não fosse assim, não teria se perpetuado no poder durante tanto tempo, da extrema direita à extrema esquerda, da Aliança Renovadora Nacional ao Partido dos Trabalhadores, passando pela corrupção juvenil de Collor de Melo e pela social democracia de fachada de FHC.
Agora, vendo desaparecer seus privilégios, usa sua imprensa na tentativa de criar um clima de convulsão no Estado a partir de ataques sucessivos ao sistema de segurança, apostando no pânico e na comoção provocada por um desfile de cadáveres na TV. Os mortos, para Sarney, só provocam emoção no jogo político, hoje como ontem, quando, sob a égide dos atos institucionais, muitos brasileiros democratas sumiram no ar.
A única liberdade de imprensa que lhe interessa é a do seu monopólio particular de comunicações, que cavou, inclusive, muitas sepulturas políticas nesse Estado.  A “liberdade de imprensa” que estava lá no Ato Institucional n 2: “É livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou ideias, por qualquer meio e sem dependência de censura, respondendo, cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer”. E tudo era abuso e a lei era draconiana e a difusão de informações e, principalmente de ideias, acabavam em prisão.
Foi nesse ambiente de convalescência das liberdades que se deu a formação política do condestável José Sarney. Ao arrepio da lei, à força de patadas institucionais, ao preço das liberdades políticas e da liberdade de expressão. Sarney, na verdade, não teve tempo de tratar do progresso do Maranhão, porque, junto com os generais, estava tratando de engessar manifestações políticas no Brasil e no seu Estado. Aliás, no Maranhão, apropriou-se primeiro do PMDB e, mais tarde, transformou parte do PT numa sucursal partidária do sarnensismo. Nós todos vimos isso.
Quando ganhou estas eleições, portanto, Flávio Dino não venceu apenas um grupo político que estava no poder. Venceu anos de ideias retrógadas, de atraso, de opção pela tirania e pelo absolutismo que vicejaram no Maranhão a partir da ditadura militar.

E certamente Sarney sente saudades do tempo em que tudo no Brasil era resolvido com patadas institucionais.

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