Editorial JP, 11 de junho
Sarney assumiu o governo do Maranhão em 1965, um ano
de cassações brutais, marcado pela edição de atos institucionais e
suplementares e supressão das garantias constitucionais no Brasil. E criou
gosto pelo absolutismo governando num Brasil capado democraticamente; primeiro
pelos Atos Institucionais n 2, 3 e 4 e solidificando sua força política no país
na esteira do famigerado AI 5. Nunca mais conseguiu suportar a democracia,
desde que, como presidente da Arena, lhe foi permitido indicar governadores e
prefeitos no Maranhão e até em outros estados. Nessa condição, se tornou o
maestro civil de uma orquestra política implacável com todo tipo de oposição.
Que, pois, ninguém se engane. A Bíblia de Sarney é
um evangelho de adesismos e tiranias. Não fosse assim, não teria se perpetuado
no poder durante tanto tempo, da extrema direita à extrema esquerda, da Aliança
Renovadora Nacional ao Partido dos Trabalhadores, passando pela corrupção
juvenil de Collor de Melo e pela social democracia de fachada de FHC.
Agora, vendo desaparecer seus privilégios, usa sua
imprensa na tentativa de criar um clima de convulsão no Estado a partir de
ataques sucessivos ao sistema de segurança, apostando no pânico e na comoção
provocada por um desfile de cadáveres na TV. Os mortos, para Sarney, só
provocam emoção no jogo político, hoje como ontem, quando, sob a égide dos atos
institucionais, muitos brasileiros democratas sumiram no ar.
A única liberdade de imprensa que lhe interessa é a
do seu monopólio particular de comunicações, que cavou, inclusive, muitas
sepulturas políticas nesse Estado. A
“liberdade de imprensa” que estava lá no Ato Institucional n 2: “É livre a
manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de
informações ou ideias, por qualquer meio e sem dependência de censura,
respondendo, cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer”. E tudo era
abuso e a lei era draconiana e a difusão de informações e, principalmente de
ideias, acabavam em prisão.
Foi nesse ambiente de convalescência das liberdades
que se deu a formação política do condestável José Sarney. Ao arrepio da lei, à
força de patadas institucionais, ao preço das liberdades políticas e da
liberdade de expressão. Sarney, na verdade, não teve tempo de tratar do
progresso do Maranhão, porque, junto com os generais, estava tratando de
engessar manifestações políticas no Brasil e no seu Estado. Aliás, no Maranhão,
apropriou-se primeiro do PMDB e, mais tarde, transformou parte do PT numa
sucursal partidária do sarnensismo. Nós todos vimos isso.
Quando ganhou estas eleições, portanto, Flávio Dino
não venceu apenas um grupo político que estava no poder. Venceu anos de ideias
retrógadas, de atraso, de opção pela tirania e pelo absolutismo que vicejaram
no Maranhão a partir da ditadura militar.
E certamente Sarney sente saudades do tempo em que
tudo no Brasil era resolvido com patadas institucionais.
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