Editorial
JP, 20 de junho
Jornal
talvez seja o lugar menos indicado para se filosofar, mas quando se é posto
diante do contrate de versões oficiais com a verdade dos acontecimentos, não é
difícil deduzir que a humanidade precisa de governos mais românticos, inspirados
nas utopias que seguem a humanidade ao correr dos séculos. Tantas civilizações
depois e parece que nada foi feito para, de fato, resolver os problemas básicos
da existência humana, tais como alimentação e justiça para todos.
A
pobreza e o analfabetismo transformam a maioria das pessoas em animais
contemplativos, cheios de esperança, mas incapazes de compreender o que
acontece no mundo à sua volta. É a dor do boi, que só se emociona quando lhe
tocam o ferrão. Essa realidade de alienação nos ensina que um governo realmente
funcional para essa época, não tem que se preocupar apenas em construir
megalópoles de cimento armado, nem gigantescas redomas tecnológicas, como as
hoje erigidas para criar a sensação de que estamos na presença de um grande
administrador. Isso redunda em mediocridade social. O administrador precisa ver
o cidadão enquanto peça fundamental, essencial e intransferível da
administração. Fora disso, tudo se resume a mais uma versão oficial.
Somente
há poucos dias foi lançado no Maranhão o I Plano de Agricultura e Pecuária,
depois de quase meio século, já no governo Flávio Dino. É quase
incompreensível, porque exageradamente cruel, que também aqui, nessa vastidão
de terras férteis, o êxodo rural tenha sido a única opção de imensas multidões
tangidas de seu habitat por pistoleiros, jagunços, a própria força pública,
empresas agropecuárias, grileiros, para satisfazer a fúria humana pela
propriedade particular.
Falta,
pois, à grande maioria dos governantes – e mais aqui faltou que em qualquer
outro lugar - esse “Espírito de Utopia”, esse romantismo social sintetizado
pelo professor Bloch que se materializa em boa comida, educação, saúde e
justiça à grande maioria dos seres viventes nos territórios governados. E não
digam que sonhos de famintos são tão difíceis de realizar, pois quase sempre se
resumem a uma mesa farta e um aparelho de TV maior que seus filhos mais novos.
As
crueldades administrativas que no Maranhão foram cometidas, quase sempre em
favor da corrupção, do enriquecimento de castas perfeitamente dispensáveis a
uma estrutura social magnânima e generosa, ainda vão repercutir por muito
tempo. E tudo o que geraram foi a fome, o analfabetismo, a pobreza absoluta, a
violência desatada, porque os sonhos dos famintos, mesmo os menos ambiciosos,
nunca sequer fizeram parte dessa ostentação.
Mas
há notícias de que o atual governo pretende aplicar R$ 500 milhões em educação
nos próximos dois anos; há notícias de que o Porto do Itaqui, finalmente, está
apresentando lucros; há notícias de maiores investimentos em segurança; há
notícias de um plano para agricultura que não se cinge mais somente aos grandes
empreendimentos.
Há,
pela primeira vez, notícias de que alguns sonhos de famintos possam se
realizar.
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