O ex-secretário chefe da Casa Civil
do governo Roseana Sarney recebeu, no Palácio dos Leões, três parcelas que
totalizam R$ 3 milhões por emissários do doleiro Alberto Youssef. Este é o fato
que confirmam os depoimentos prestados à Polícia Federal e à Polícia Civil
pelos principais emissários do homem que virou o pivô da operação Lava Jato. João
Abreu se entregou à Polícia na tarde desta sexta (25), no aeroporto de São
Luís.
Em depoimento obtido com
exclusividade pela reportagem de O Imparcial, Rafael Ângulo diz que fez várias
viagens com destino a São Luís, a mando de Youssef, transportando dinheiro
colado ao próprio corpo com meias de pressão. Ângulo conta que esteve em São Luís
por duas vezes para “fazer a entrega, ao secretário João Abreu, de dinheiro
enviado por Youssef, carregado no próprio corpo. Informou que o fez no Palácio
dos Leões, diretamente ao secretário, na sala dele, por determinação e sob as
instruções de Youssef.”
Os depoimentos dos principais
envolvidos no esquema de corrupção que foi desvendado em abril de 2014, quando
Roseana Sarney ainda era governadora do Maranhão, mostram que, para efetivar um
acordo entre o Governo do Estado e a empresa Constran para o pagamento de uma
dívida de precatório referente aos anos de 1980, o ex-secretário João Abreu
teria recebido R$ 3 milhões como propina paga pelo doleiro. Os pagamentos foram
efetuados nas viagens feitas por Rafael Ângulo.
Braço direito de Youssef, Ângulo conta
em seu depoimento detalhes sobre o Palácio dos Leões e a sala em que entregava
o dinheiro a João Abreu. Às polícias Federal e Civil, ele revelou “detalhes do
interior do prédio (Palácio dos Leões), que é de acesso restrito, e do caminho
até a sala do Secretário” o que, segundo os delegados responsáveis pela
condução do processo, “confere grande verossimilhança às suas declarações”.
Junto a ele atuava Adarico
Negromonte, ambos responsáveis pelas viagens de “negócios” do doleiro para
efetuar as entregas que eram combinadas em reuniões capitaneadas por Youssef.
Os depoimentos confirmam que “ambos levaram, em cada uma dessas ocasiões, R$
800 mil acondicionados em seus próprios corpos. As viagens e esses pagamentos,
realizados diretamente a João Abreu, foram revelados pelos próprios Youssef (à
Polícia Federal e à Polícia Civil), Rafael Ângulo e Adarico”.
Em seus depoimentos, os delatores
contam que levavam o dinheiro do hotel para a Casa Civil em malas. A versão foi
confirmada pelo doleiro, ao informar que na noite anterior à sua prisão, deixou
uma mala contendo R$ 1,4 milhão referente à última parcela do “acordo” feito
com ex-secretário de Roseana Sarney para que esta fosse entregue por “Marcão” a
João Abreu na manhã seguinte. João Abreu, em seu depoimento, confirma que Marco
Antonio esteve no Palácio dos Leões para reunir-se na Casa Civil e que ambos
aguardavam Youssef.
E foi nessa viagem, nesse dia, que
ocorreu a prisão de Alberto Youssef, num hotel de luxo da capital maranhense,
situação em que estava acompanhado por Marco Antonio Zieghest. Conhecido por
“Marcão”, ele foi o elo entre Youssef e João Abreu para o início das tratativas
para o pagamento do precatório – que somava R$ 113 milhões. O acordo para
pagamento da dívida que já corria há 20 anos aconteceu em tempo recorde, três
meses, a partir de negociação entre Youssef, o chefe da Casa Civil e a
Procuradoria-Geral do Estado.
A investigação iniciada pela Polícia
Federal do Paraná e que culminou na prisão do doleiro Alberto Youssef em São
Luís, teve esta semana mais uma etapa concluída com a decretação da prisão de
João Abreu, Alberto Youssef, Marco Antonio Zieghest e Rafael Ângulo, por meio
de decisão proferida pela 1ª Vara do Tribunal do Juri. A decisão foi de autoria
do juiz Osmar Gomes. Até o momento, apenas o ex-secretário João Abreu foi preso
ao se entregar à Polícia Civil do Maranhão. Youssef está preso na sede da
Polícia Federal em Curitiba.
Quem é quem
Rafael Ângulo – responsável
por transportar quantias elevadas de dinheiro em vôos pagos por Yousseff, com
notas de dinheiro acondicionadas no próprio corpo
Meire Poza – contadora
doleiro e responsável pelos investimentos feitos pelas empresas de fachada
Marcos Zieghest – elo entre
João Abreu e Alberto Youssef
João Abreu –
ex-secretário chefe da Casa Civil, no governo Roseana Sarney. Homem de
confiança da então governadora. Em depoimento à Polícia, disse que informava
Roseana de tudo o que fazia
Roseana Sarney – autorizou e
assinou os acordos entre a empresa Constran e o Governo do Estado que resultou
no pagamento das propinas.
Entenda o caso
Youssef foi preso em São Luís em
março de 2014, quando teria um encontro no Palácio dos Leões com João Abreu
para entregar a última parcela da propina no valor de R$ 1.400.000,00.
João Abreu foi responsável pela intermediação
entre a empresa Constran e o Governo do Maranhão, durante o governo Roseana
Sarney, para pagamento de dívida da década de 1980 que somava R$ 113 milhões.
Para facilitar as negociações,
Youssef teria pago a João Abreu R$ 3 milhões em propina. O doleiro representava
a empresa Constran para tratar da dívida no Maranhão.
Rafael Ângulo, braço direito de
Youssef, esteve em São Luís por duas vezes para entregar na sala de João Abreu
parcelas da quantia combinada.
Inquérito, instaurado pela Polícia
Federal no ano passado pelo juiz Sérgio Moro, tramita no Maranhão por
determinação do Superior Tribunal de Justiça.
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