Editorial
JP, 5 de setembro
O poeta Renato Russo em uma das
mais belas canções que este país ouviu perguntava: “será só imaginação, será
que nada vai acontecer, será que é tudo isso em vão, será que vamos conseguir
vencer”?
Imaginem, agora, que tudo que um povo
sonha vai dar certo, que não existirão crianças famintas e que o mais que essa
gente pobre, humilde e sem trégua sente vai acontecer. Imaginem, só por um
momento, que a palavra de Deus não foi em vão e que o mal se extinguirá nas
suas próprias raízes; imaginem o mundo sem guerras, sem medos no qual só
prevalecerá a justiça.
Essas imagens são propositais porque
há de chegar o dia em que por trás de cada lagrima caberá um sorriso oculto.
Mesmo que essa crônica não alcance os juízes, os pastores, os médicos, os
jornalistas e todas as profissões fundadas na violência, pensem só e pensem só
mais uma vez num mundo sem armas, longe da iniquidade humana no qual a dor não
será mais servil ao sofrimento.
Essa mistura de Renato Russo com
John Lennon é a receita exata pela qual controlaremos nossa raiva e todo
sentimento de ódio, discriminação e xenofobia se esconderá acima de nossas
barbas e de nossas peles. Nunca mais um homem vai achar que tem o direito de
tirar a vida de outro homem, nunca mais bateremos em nossas mulheres e,
principalmente, estaremos proibidos de barbarizar nossas crianças.
Não retornaremos à crueldade do
homo sapiens, disputando comida e território como se fosse amor. Estaremos
acordados, suplicando pela ternura, pelo carinho e o vil metal que nos afasta
uns dos outros se tornará a moeda de troca da solidariedade e da fraternidade.
O único pecado será deixar alguém
com fome e, como se todas as casas fossem o Éden, só nos será proibido
desmanchar o paraíso.
Um planeta governado por
carnificinas religiosas e pagãs como a Terra dispensará todas as cobiças porque,
simplesmente, seremos prisioneiros da verdade.
Nada de absoluto governará nossas almas,
nem mesmo o vaticínio implacável da morte. O sangue só correrá dos acidentes e
dos arranhões. Só as bambinas e bambinos terão o direito de morder e, para que
todos se reconheçam, o único vício será leite de mãe.
Essa é a crônica permitida de um missionário
que pensa em vencer a si próprio para também vencer a maldade humana, é o
panfleto apócrifo que cada um dos oito bilhões de habitantes do mundo deveria
assinar. É apenas a vontade de um espirito que nem precisa ser santo para
dizer: “faça-se a luz”.
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