Editorial
JP,12 de janeiro
A
Justiça brasileira alcançou o que até bem pouco tempo parecia impossível:
Vencer a imunidade da classe política, dos muito ricos e de poderosos de todos
os naipes e tamanhos. À notícia de que foram autorizadas as quebras dos sigilos
bancário, fiscal e telefônico do senador Edison Lobão, duas vezes ministro, nas
bancas as capas das principais revistas do país trazem estampadas as fotos de
alguns dos mais ricos e poderosos brasileiros na prisão.
A
incredulidade nos rostos dos prisioneiros do Pavilhão 6, na capa da revista
Veja, é a mesma do povo brasileiro. Não era possível crer que Marcelo
Odebrecht, João Vaccari Neto e José Dirceu, vivendo, hoje, tormentos parecidos
aos de prisioneiros comuns, fossem descritos assim, no texto romanceado da
reportagem: “São quase 6 da manhã. Sete graus. O dia ignora o verão. O interno
18065, bilionário, herdeiro do maior império de construção pesada no país,
escorrega para fora do colchonete raso, pisa descalço no chão gelado da cela
604 e, rispidamente, lava o rosto na agua do tanque. Os companheiros de cela
ainda dormem. Logo, ele, os outros quinze presos da Operação Lava Jato e os
demais detentos do Complexo Médico-Penal de Pinhais, perto de Curitiba, vão ser
sacudidos pelo toque de despertar. É a vida no Pavilhão 6”.
Quem
leu romances como Papillon ou viu filmes como “Lúcio Flávio, o Passageiro da
Agonia” e “O Expresso da Meia-Noite”, saiu da sala com a sensação de que não há
vida pior que a cadeia. A comoção que nos causa a brusca mudança nas vidas
dessas pessoas, no entanto, não diminui a gravidade de seus crimes, nem pode
substituir o ideal de Justiça que demarca a separação entre o bem e o mal. Desde
a Idade Média, passando pela Santa Inquisição, nos acostumamos a aproximar as
prisões do inferno religiosamente prometido aos que desobedecem os mandamentos
da lei de Deus e, também, da lei dos homens. Basta entender que não há
sentimento mais arraigado ao ser humano que a liberdade de ir e vir.
Se,
historicamente, as leis já foram mais duras e os castigos, em geral, desumanos
e degradantes, dores tão terríveis como a fome e o desespero cultural de quem
nasce e cresce sem saída, não foram capazes de despertar a piedade e a
solidariedade de muita gente. Compreender, pois, porque é tão imprescindível a
igualdade de direitos não é para qualquer um.
São
muitos os pavilhões carcerários neste mundo. Mas se para alguns bastasse o que
basta ao resto da humanidade, se não existisse tanta ganância, ambição e
imediatismo, o Pavilhão 6 estaria vazio e, certamente, aconteceria menos fome e
desespero enchendo tantos outros milhares de pavilhões.
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