quinta-feira, 14 de abril de 2016

Assassinos

É preciso enfiar esses monstros na cadeia, nem tanto pelo mal e dor que causam, mas pelo que lhes sobra de aparência humana.

Editorial JP, 14 de abril

Inscreve-se o Brasil entre os países onde é mais perigoso exercer a profissão de jornalista, com sucessivos assassinatos, ataques, lesões, perseguições de ordem financeira e moral, pontuando acima das cabeças daqueles que se dedicam à nobre missão de formar e informar a opinião pública. Jornalistas, ao tempo que atraem fãs entre os cidadãos de bem, atraem inimigos poderosos, seja nas máfias ou, mesmo, entre autoridades fascistas e corruptas.
Tivemos, no último sábado, a notícia de que mais um blogueiro, o Ben Hur, foi assassinado com vários tiros pelas costas no município de Cururupu. Com este, são três assassinatos em menos de um ano, o que, infalivelmente, nos faz lembrar, ainda com muita tristeza, o brutal crime de morte contratado contra o jornalista Décio Sá. O título desse editorial é redundante, porque numa selva em que a liberdade de expressão mesmo quando não atinge a honra de ninguém, permanece vigiada para que ajam livres nos subterrâneos da sociedade, os mais disfarçados bandoleiros.
Há narinas porcas que só se satisfazem com cheiro de sangue e línguas que só sabem o sabor da morte. Não podem ser considerados humanos seres pagos para tirar as vidas de seus semelhantes, mesmo que sem raiva, mesmo que sem ódio, mesmo que livres de qualquer tipo de emoção. São sicários de Belzebu e merecem todos os infernos, inclusive os da Terra.
As vítimas da pistolagem no Maranhão, quase sempre são quilombolas, são ambientalistas, são padres, jornalistas, blogueiros. É o que termos visto e acompanhado em tantos anos de circulação do Jornal Pequeno. Por trás dos pistoleiros, mais cruéis e covardes ainda, os mandantes, invariavelmente imunes aos rigores das leis. E isso dói, nos diminui como pessoas, nos abastarda como sociedade organizada e civilização.
É preciso enfiar esses monstros na cadeia, nem tanto pelo mal e dor que causam, mas pelo que lhes sobra de aparência humana, a se confundir com gente, como se profissão de gente fosse matar. Esses crimes sem ódio, por dinheiro, ou em defesa de fortunas amealhadas ao pisotear de almas, igualam a humanidade a animais rasteiros, cobras e lagartos venenosos de outros mundos que, certamente, Deus não criou.
Que não seja este mais um crime sem solução cometido contra pessoas que se dedicam à missão de tornar a sociedade ciente dos acontecimentos à sua volta e dos motivos que os entornam. Matar jornalistas, ou blogueiros, como entendam, pela via do mais hediondo e covarde expediente, está consagrando certificados de impunidade no Brasil e, muito particularmente, no Maranhão.

A praga está aí. A praga da pistolagem que nos persegue desde o século passado. E o pior é que estamos ficando cansados de somente rezar. 

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