quarta-feira, 13 de julho de 2016

Os herdeiros de Al Capone

Editorial JP, 13 de julho

O Estados Unidos descobriu nos anos 20, quando a cidade de Chicago ainda se assemelhava ao Velho Oeste, os efeitos danosos da sonegação, um crime que entre brasileiros, até hoje, é tratado muito mais como esperteza que como violação da lei. Uma história que ilustra essa afirmação é a de Al Capone, um assassino violento que faturou com o crime uma fortuna que hoje seria avaliada em mais que 1 bilhão de dólares. Não pagava impostos e, para tanto, se utilizava de todo tipo de suborno.
Os sonegadores de hoje, assim como Al Capone, são discretos e espertos. Dizem que o bandido americano, em toda a sua vida, endossou um único cheque. Esse cheque o levou à prisão e acabou condenado por sonegação fiscal. Os cálculos da sonegação no Brasil são astronômicos e não é diferente no Maranhão. Quanto a isso, duas notícias chamam a atenção. A primeira é que o Governo do Maranhão, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público firmaram um convênio de capacitação técnica para atuação conjunta no combate a esse tipo de crime. A outra é a prisão do dono da “Dimensão Engenharia”, empresa que atua na construção civil, junto com uma dezena de auditores fiscais, por crimes diversos que também incluem a sonegação. 
Não é novidade para ninguém que a sonegação é responsável por muitas riquezas nesse e em outros estados. Como disse o governador são os impostos que viabilizam os meios materiais para a garantia dos serviços públicos, que vão desde o fornecimento de sementes e insumos para a agricultura até a construção de hospitais e abertura de estradas. E, a julgar por dados fornecidos pela própria Receita Federal, no Brasil o povo pobre paga impostos, o povo rico, assim como Al Capone, sonega.
Medidas como essa força-tarefa reforçam o propósito radical de mudança e a opção pelos mais pobres no governo Flávio Dino. Costumeiramente neste país, toda crise é uma doença tratada com um único remédio: a exigência de mais sacrifícios ainda das classes mais empobrecidas. Só para que se tenha uma ideia, a sonegação de impostos no Brasil atingiu R$ 420 bilhões em 2015, conforme estimativa do Sindicato dos Procuradores da Fazenda. E ela cresce anualmente. Somente a dívida das 500 empresas que mais devem a União alcança R$ 392 bilhões. E são 3 milhões e 500 mil devedores. A maior parte dessa dívida se refere a Imposto de Renda, descontado diretamente do salário dos trabalhadores e contribuições previdenciárias.

Assim, a força-tarefa montada aqui no Estado é um exemplo que deveria ser seguido pelo governo do Brasil. Parabéns ao governo, ao Tribunal de Justiça e ao Ministério Público do Maranhão. E que durmam em paz os herdeiros de Al Capone.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário