O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da
Silva fez críticas, em discurso, na tarde de hoje (15) aos procuradores que o
denunciaram ontem (14) na Operação Lava Jato. Lula diz que a apresentação da
denúncia foi “um espetáculo de pirotecnia” e que é vítima de perseguição “pelas
coisas boas que fez pelo país”.
“Em respeito à lei, vou prestar quantos depoimentos
forem necessários. Podem me chamar que estou lá. Se tem uma coisa que eles tem
que aprender é que eles não estão habituados com o cidadão, que a única coisa
que tenho orgulho é que conquistei o direito de andar de cabeça erguida. Provem
uma corrupção minha e eu irei a pé para ser preso”, disse em discurso, durante
evento organizado pelo PT no Novotel Jaraguá, na capital paulista.
Ontem (15), o ex-presidente foi denunciado, no âmbito da Lava Jato, por procuradores do
Ministério Público Federal à Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro,
corrupção passiva e falsidade ideológica. Na denúncia, os procuradores dizem
que o ex-presidente recebeu vantagens indevidas referentes à reforma de um
triplex em Guarujá (SP) feita pela empreiteira OAS. A esposa de Lula, Marisa
Letícia, também foi denunciada. De acordo com procurador da República
Deltan Dallagnol, o ex-presidente era o "comandante máximo do esquema de
corrupção identificado na [Operação] Lava Jato".
“Não conheço pessoalmente os meninos que fizeram o
espetáculo de pirotecnia. Mas pela educação que eu tive de berço, eu respeitaria
mais a família deles do que eles respeitaram a minha”, disse.
“Aprendi que não adianta ficar nervoso ou zangado.
Se ficar, você sofre mais e faz o jogo do adversário. Ontem, eu não quis ficar
zangado. Só não compreendia o porquê daquilo. Por que se convoca a coletiva,
com dinheiro público e se diz 'não tenho prova, mas tenho convicção'? Não posso
dizer qual é a convicção que eu tenho deles. Eles tinham a prova do avião [em
referência ao helicóptero da família do senador Zezé Perrella (PDT), apreendido
em 2013, com cocaína], eles viram a cocaína, tinham a prova, mas eles não
tinham convicção”, acrescentou, sendo aplaudido pelo público que acompanhava o
discurso, entre eles parlamentares petistas e líderes de movimentos sociais.
Mentira
O ex-presidente negou que seja dono do apartamento
citado pelos procuradores e que é vítima de uma mentira. “Me dedicaram um
apartamento que não tenho, me dedicaram uma chácara que não é minha, me
dedicaram até a ser comandante [do esquema de corrupção na Petrobras]. 'Não
tenho prova, mas tenho convicção' [em referência a comentário dos procuradores
durante detalhamento da denúncia] de que quem mentiu está em uma enrascada.
Tenho convicção de que setores da imprensa que mentiram vão ter que construir
uma versão para sair dessa enrascada. E não vou perder sono por causa disso.
Quem vai perder o sono é quem acha que eu perderei o sono. A história mal
começou. E eu ainda vou viver muito”, disse.
Lágrimas
Em dois momentos do discurso, Lula foi as lágrimas.
O primeiro deles ao dizer que conquistou o direito de “andar de cabeça
erguida”, sendo saudado pelo público presente no hotel no centro da capital que
gritava “Lula, guerreiro do povo brasileiro”. No segundo momento, Lula
lembrou da infância pobre, recordando ter passado fome. “Tenho certeza de uma
coisa: nada. Só Deus, pode me fazer parar de luta pelo que acredito. Tenho uma
razão e motivação e quando se tem isso, não tem tempo para canseira”.
O ex-presidente provocou seus críticos: “Nenhum
deles é maior do que a lei. Quando eu transgredir a lei, me punam para ser
exemplo. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para dar problema”.
PT
Lula disse ainda ter orgulho de ter fundado o PT. Ao
final do discurso, ele mostrou a camisa do PT, que estava vestindo. “Quero
dizer a quem não gosta do PT que cada petista nesse país tem que começar a
andar de camisa vermelha. Esse partido tem que ter orgulho. Esse partido, aos
36 anos, tem que ter orgulho porque nunca ninguém fez o que esse partido fez”.
Ato de apoio
Do lado de fora do hotel, dezenas de pessoas se
reuniram em um ato de apoio ao ex-presidente, que discursou para militantes,
parlamentares do PT, ex-ministros e líderes de movimentos sociais. A
manifestação, convocada pelas redes sociais, fechou parte da Rua Martins Fontes
e terminou às 15h30.
A enfermeira Edva Aguilar, 59 anos, participou do
ato que, segundo ela, era "de repúdio à Justiça, ao Ministério Público, à
Polícia Federal, ao Supremo e a todas essas instituições que são parciais e
partidárias e que são antipetistas e colaboraram para o golpe nesse país”.
Para ela, as
acusações contra Lula são infundadas e ele está sendo perseguido "por
representar o povo". “Eles têm muito medo que Lula volte ao poder.
Eles têm muito medo que Lula, em 2018, seja eleito”, disse. "Se Lula era o
chefe do petrolão, porque então ele ficou com uma fatia tão pequena, com um
simples triplex enquanto os outros tem apartamento em Paris? Como é que ele
ficou com um 'sitiozinho' onde ele vai carregando isopor na cabeça? Vamos abrir
os olhos. Os grandes corruptos são acobertados pela Justiça e pela mídia",
acrescentou. (Agência Brasil)
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