Editorial JP,05 de outubro
Fenômenos eleitorais surgem de tempos em
tempos e quase sempre são inexplicáveis e indetectáveis. Às vezes uma única
frase ou um único slogan é capaz de criar um desses candidatos que mudam toda a
lógica da eleição e desafiam todas as previsões eleitorais. Um exemplo foi a
eleição inesperada do ex-presidente Collor de Melo que a uma imagem de
esportistas juntou a expressão “O caçador de marajás” e acabou vencendo o mais
recente fenômeno à época, o operário Luís Inácio Lula da Silva.
Mais fenomenal ainda foi a frase que fez
do deputado Tiririca o mais votado da história de São Paulo: “Vote no Tiririca,
pior do que está não fica”. Se elegeu e levou para a Câmara vários deputados
sem votos candidatos pelo seu partido.
No caso do recente primeiro turno da
eleição em São Luís, surgiu um inesperado fenômeno eleitoral, o deputado
Eduardo Braide que em todas as pesquisas estava colocado entre os últimos
lugares. Nenhum instituto conseguiu detectar o avanço inesperado de sua
candidatura e ele acabou em segundo lugar pronto para disputar o segundo turno
com o prefeito Edivaldo Holanda Júnior, ultrapassando as intenções de votos em
Wellington do Curso e Eliziane Gama. Longe das frases feitas e dos slogans
imbatíveis, Braide parece ser um fenômeno dos palanques eletrônicos, nos quais
um discurso articulado e o conhecimento de causa sobre os problemas de São Luís
e projetos legislativos que atendem às políticas públicas exigidas pela
população despertaram o interesse do eleitor.
Outros fenômenos eleitorais podem ser
citados. Clodovil Hernandez, um homossexual assumido, numa terra de muitos
preconceitos e homofobia, foi eleito com mais de 500 mil votos em 2006,
mostrando que diante dos fenômenos eleitorais, o eleitor age como uma locomotiva
desgovernada disparando em uma direção só. Com o bordão “Meu nome é Enéas”, o
cardiologista Enéas Carneiro teve votos suficientes para eleger mais 5
deputados federais, sendo candidato por um dos mais fracos partidos à época.
Esses fenômenos acontecem desde a
invenção da democracia. Tanto que na Roma antiga era proibido ser artista e
político. E os fenômenos às vezes ocorrem a partir de campanhas políticas
bizarras que reúnem votos de protesto contra a política e os políticos
tradicionais ou em que um povo decepcionado vota por pura galhofa recusando os
compromissos verdadeiros com a coisa pública.
É claro que o surgimento de um fenômeno
eleitoral não significa que o candidato será inevitavelmente eleito,
principalmente em se tratando de eleições majoritárias. Em territórios de voto
obrigatório os fenômenos são decorrência de uma série de fatores sócio
econômicos e políticos e da aversão do próprio povo pela política, como
acontece atualmente no Brasil.
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