A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, afirmou nesta quinta-feira, durante palestra na abertura do X Fórum da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), que é impossível garantir o cumprimento da Constituição sem liberdade plena de imprensa.
—
É impossível garantir a integridade, a eficácia, a efetividade, não apenas
jurídica, mas a efetividade social, sem que todo mundo cumpra a Constituição e
tenha nela a garantia dos seus direitos, senão com uma imprensa integralmente
livre com todo mundo podendo se expressar, ainda que seja contra mim. E olha
que leio coisas sobre essa ministra Cármen Lúcia que até eu fico contra —
brincou a presidente do STF, ao lado do presidente da Associação Nacional de
Editores de Revistas (Aner) e diretor-geral de mídia impressa do Grupo Globo,
Frederic Kachar.
Na
chegada ao evento, em entrevista, Cármen Lúcia, ao ser indagada sobre decisões
de instâncias inferiores do Poder Judiciário contra jornalistas, respondeu:
—
Vou dar prosseguimento ao que o Supremo já decidiu reiteradamente: de fato
‘cala a boca já morreu’. Não há democracia sem imprensa livre.
Durante
a palestra, a ministra do STF disse que as decisões judicias que podam a
liberdade da imprensa não encontram respaldo na constituição.
—
Nós temos até uma censura judicial. Esse é um problema de estado facilmente
solúvel porque o estado está devidamente estruturado constitucionalmente
exatamente para garantir a liberdade.
NOVAS TECNOLOGIAS
Destacou
ainda que as novas tecnologias têm provocado uma mudança completa na forma de
atuação dos meios de comunicação e também do Judiciário. Afirmou que as ações
para a retirada de conteúdo das redes sociais partem de cidadãos.
—
Quem muitas vezes impede a liberdade da informação é o outro particular. Não é
o estado como era antes, como é nas ditaduras — afirmou a presidente do STF. —
Hoje, você tem censuras estabelecidas, por algo que é extremamente contrário às
liberdades em geral, que é o politicamente correto.
De
acordo com Carmen Lúcia, a própria democracia está mudando por causa da nova
forma da sociedade de se comunicar.
—
A democracia muda a partir dessa mudança de tecnologia pela qual se passa a
informação, alastrada permanentemente e que não para um segundo.
O
desafio, para os magistrados, na a visão da ministra, é interpretar a
constituição de 1988, redigida no período analógico, no mundo atual, totalmente
digital.
—
Temos que dar vida a essa constituição de 88 porque mudou completamente o que é
o sentido da informação e dinâmica. O que precisamos garantir é que a liberdade
de informação, seja qual for espaço, seja qual for o tempo e seja qual for a
tecnologia, seja assegurada.
KACHAR: ALÉM DO CONTEÚDO
Frederic Kachar elogiou a fala da
presidente do STF, mas lamentou decisões das instâncias inferiores do
Judiciário contra o trabalho da imprensa.
— Acontece que no Brasil o
Judiciário não é só o Supremo. O Supremo é a última instância, a gente tem a
primeira e segunda instância, e com muitos casos de cerceamento de liberdade de
expressão — afirmou Kachar, que citou como exemplo as ações de magistrados do
Paraná contra o jornal “Gazeta do Povo” por causa da publicação de uma
reportagem sobre remuneração no Poder Judiciário do estado e a quebra do sigilo
telefônico do colunista Murilo Ramos, da Revista Época.
Para o presidente da Aner, é importante
discutir os caminhos do setor diante das novas tecnologias. O fórum tem como
tema “reinvenção e relevância”.
— Com as novas tecnologias, a gente
participa das conversas da nossa audiência. Nosso papel é ser o grande mediador
das conversas. Não cumprir apenas o papel de mandar conteúdo.
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