quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Jornalismo ou invencionices?

Por Robson Paz


Na era das mídias digitais as informações se propagam com impressionante velocidade. Nem por isso a prática jornalística perde importância. Ao contrário. Cada vez mais se exige celeridade e apuração dos fatos com potencial de noticiabilidade.
Mas, a onda populista e de intolerância que se espraia pelo planeta nestes tempos traz intrínseca uma acentuada carga de desvios éticos e jornalísticos. É o que se depreende do relatório anual divulgado, recentemente, pela organização não governamental Ruman Rights Watch, que dedica parte do estudo a uma análise sobre os meios de comunicação. “À imprensa cabe informar com mais responsabilidade do que nunca e alertar pra onda de notícias falsas, que se espalha pela internet e surpreendentemente convence”, afirma trecho do documento.
A constatação e recomendação da Ruman Rights Watch se adequa à realidade de parte dos meios de comunicação do país e também do Maranhão. Por aqui, há veículos pertencentes a políticos e novas ferramentas de comunicação, que se notabilizam por criar notícias falsas. Parte dos blogs, que surgiu como alternativa para democratizar o acesso à informação contribui para ampliar o fosso entre o jornalismo e a prática adotada pelas páginas pessoais.
Debater tais práticas é saudável ao processo democrático. Embora sejam páginas pessoais, os blogs fazem questão de disseminar a áurea de jornalismo. O discurso em certa medida é utilizado para dar verniz jornalístico às postagens pessoais e em grande parte sem a responsabilidade ética e profissional. A maioria não respeita requisitos mínimos exigidos para a atividade jornalística. Apurar com eficiência, ouvir todos os lados envolvidos e seguir os preceitos éticos da profissão.
Nos últimos meses, pululam os maus exemplos. Aquilo que é conhecido no jornalismo como barrigada, isto é, notícia sem qualquer fundamento, parece ter virado regra em parte dos meios de comunicação.
Da informação fantasiosa de aumento do salário do governador Flávio Dino, passando por separação que nunca existiu entre secretários de Estado; avaliação política jamais feita por ex-presidente nacional do PCdoB; discussão, que nunca aconteceu entre governador e secretário, testemunhada por um terceiro que estava em viagem para fora do Estado; demissão de médicos em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que nunca aconteceram; previsão de que o governo não pagaria o 13º salário.
São fatos que merecem reflexão e se encaixam com precisão no diagnóstico feito pela ong internacional. O relatório faz menção também à liberdade de expressão no país e critica com justiça a violência contra jornalistas e blogueiros.
O documento elogia a postura do país em liderar a defesa do direito à privacidade na era digital. É um posicionamento relevante tendo em vista série de abusos nas mais variadas áreas. Há quem imagine o direito à liberdade de expressão como licença para caluniar, difamar, constranger, criar estórias, que causam transtornos à vida pública e/ou privada das pessoas.
“O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”, ensina o consagrado jornalista Cláudio Abramo.

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