Não há um único brasileiro feliz nos
dias de hoje; nenhum completamente seguro de sua fé política no Brasil.
JM Cunha Santos
O país está sem governo pelo simples
fato de que não sobrou ninguém para governar. E é paradoxal que homens
investigados por formação de quadrilha tenham poderes constitucionais para
editar a tal Ação de Garantia da Lei e da Ordem e colocar o Exército e a
Marinha nas ruas da capital do país. Os bandidos aplicam as leis.
“Faz escuro, mas eu canto”, disse o
poeta Thiago de Melo. E é tudo muito escuro, muito assustador. Quadrilhas
formadas por empresários e políticos inviabilizaram as instituições nacionais,
inviabilizaram a saúde, a educação, a segurança, o emprego. Faz escuro. Não há
um único brasileiro feliz nos dias de hoje; nenhum completamente seguro de sua
opção política no Brasil, nenhuma instituição em que se possa confiar. Essas
organizações criminosas compraram e leiloaram deputados, senadores, juízes,
procuradores, ministros e até presidentes. Há, isto sim, um povo miserável,
cansado e furioso, cercado de baionetas e impedido de mostrar que não aguenta
mais.
A que patrimônio querem proteger com
esse edito militarista? Ao do povo brasileiro, sim. Ao que sumiu nas contas
secretas, nos paraísos fiscais, ao que sumiu em malas, sacos e cuecas de
dinheiro público, ao escorchante tributo pago pelo povo que virou propina,
turbinou os ativos de empresas bilionárias dirigidas por ladrões e garantiu
milhares de anos de mandatos eletivos às custas do couro cerzido a faca da população.
O Brasil está sangrando por todos os
poros e é ao povo que acusam de vandalismo, é contra o povo que as balas se
dirigem, porque ser povo é, de fato, a única coisa ilegal no Brasil. O resto se
resolve com foros privilegiados e segredos de Justiça.
As tropas estão nas ruas e mais tropas
virão; o povo está nas ruas e mais povo virá. Nada mais parecido com uma
coleção de bombas caseiras num estádio de futebol, nada mais propício ao
oportunismo tirânico, à violência política doméstica, ao engavetamento das
relações humanas, à castração das liberdades e às alternativas mais cruéis de
poder.
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