Por Carlos Lula
Uma das esquisitices de
quem, como eu, tem apreço por livros, é, em muitos casos, ter acesso a
conteúdos e matérias que, a princípio, pouco lhe dizem respeito. Quando
criança, recordo-me de visitar bibliotecas vastas, a revelar que seus donos de
tudo liam, das ciências humanas às exatas. Nunca me imaginei num cenário
desses, mas hoje, a vislumbrar minha própria biblioteca, encontro praticamente
de tudo um pouco. Nela, inclusive, há um cantinho especial para a matemática.
Digo isso porque voltei à
leitura de um belíssimo livro do jornalista e escritor americano Darrell Huff,
diante de artigo que apontava um suposto sucateamento da Saúde no estado do
Maranhão. Pois bem, o livro chama-se “Como mentir com estatística” e foi
lançado nos Estados Unidos em 1954, mas relançado em 2016 no Brasil numa bem
acabada edição.
O que o autor faz, de
maneira descontraída, simples, e, por vezes, irônica, é chamar a atenção para o
fato de que as estatísticas utilizadas numa matéria jornalística, por exemplo,
podem estar corretas, mas a forma de obtê-las, interpretá-las, associá-las e
até mesmo apresentá-las pode causar grandes distorções. Eis o alerta
fundamental de Huff.
Voltemos, então, ao
Maranhão. O artigo acima referido parte do pressuposto de que “houve redução
nos gastos com a saúde pública no governo Flávio Dino”. Para tanto, sua autora
se utiliza de dados públicos da Secretaria de Planejamento do Governo. Segundo
ela, as despesas totais com a Saúde estariam caindo drasticamente, de sorte que
teríamos hoje menos materiais hospitalares, menos medicamentos, menos
atendimentos e internações e até menos cirurgias.
Pois bem. O que o artigo
chama de “despesa total” desconsidera o total de despesas empenhadas, levando
em conta apenas as liquidadas. Todo o restante deriva daí, dessa “pequena”
mudança metodológica. Entretanto, o verdadeiro critério de validação para o
cálculo de gastos percentuais com a saúde considera exatamente o valor omitido,
ou seja, deve ser ponderado o que foi efetivamente empenhado, e não apenas o valor
liquidado. Ao observar os reais números, toda a argumentação do citado artigo
cai por terra.
Os números aqui destacados
estão no saite da SEPLAN e são públicos. Em 2014, o Estado gastou R$
1.894.215.906,11. Já em 2016, R$ 2.015.205.683,12. Ou seja, mesmo num cenário
de grave crise econômica, o governo do Maranhão gastou em serviços de saúde em
2016 quase 121 milhões de reais a mais que em 2014, R$ 120.989.777,01 para ser
mais exato. Nos últimos dois anos, portanto, não diminuímos; aumentamos o
investimento em saúde.
Outro dado que também
precisa ser analisado diz respeito à produção da Secretaria.
Para isso, é necessário
analisar os números do DATASUS. Neles, mais indicadores, a demonstrar
exatamente que os argumentos postos no citado artigo não correspondem à
realidade. Se em 2014 foram realizadas 78.207 internações em nossa rede de
saúde, em 2015 ocorreram 82.249, e em 2016, 93.732. Um crescimento de 19,85% em
apenas dois anos. Já produção ambulatorial saiu de 23.930.174 atendimentos em
2014 para 25.368.797 atendimentos em 2016, crescendo mais de 8%. Uma simples
análise de números, portanto, leva à conclusão que o aumento de investimento em
saúde nos rendeu o crescimento do número de internações, consultas, cirurgias e
procedimentos na nossa rede de saúde nos últimos dois anos.
Poderia falar ainda dos
hospitais regionais, da eficiência no uso do recurso público, da abertura de 10
leitos de UTI em Caxias, de 10 leitos de UTI em Pinheiro, de 10 leitos de UTI
em Santa Inês, de 8 leitos de UTI em Bacabal, de 8 leitos de UTI na Maternidade
Marly Sarney, de 10 leitos de UTI em Imperatriz e na breve abertura de mais 10
leitos de UTI em Balsas, apenas para citar mais um dado, mas o espaço não o
permite.
Iniciei com o professor
Darrell Huff e pretendo com ele finalizar. Ele adverte, lá pelas tantas, que é
bom analisar com bastante atenção fatos e números em jornais, livros, revistas
e anúncios antes de aceitar qualquer um deles como correto. Às vezes, diz ele,
um olhar cuidadoso melhora o foco, exatamente o que pretendemos aqui
demonstrar. Aumentamos o número de unidades, o número de leitos, o número de
leitos de UTI, os procedimentos, as cirurgias e internações, eis a realidade.
Os dados são públicos e objetivos, mas é preciso adotar a metodologia correta
para analisá-los, sob pena de enviesá-los somente para agradar a nossa torcida.
Afinal de contas, os números não mentem, mas quem os manipula corre sempre o
risco de fazê-lo.
Secretário de Saúde do Maranhão
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