JM Cunha Santos
E quem diria que a mala, um mero artefato
de viagem, um simples adorno romanesco na vida de retirantes empobrecidos, em
geral carregado de roupas velhas, esperanças e desilusões, se tornaria o
principal símbolo do poder no Brasil.
É a mala, hoje, o objeto mais filmado em
investigações secretas, a principal responsável pela conquista de mandatos
parlamentares, pela eleição de muitos governantes e também pela presença de
figuras ilustres da República em presídios federais. Figuras que logo serão
libertadas, muitas malas depois.
Malas pagam reformas trabalhistas e
previdenciárias, resgatam dívidas de precatórios, substituem decretos, impõem e
mudam decisões judiciais, derrubam e elegem presidentes da Nação. Um objeto que
praticamente servia apenas para carregar sabonetes, toalhas e escovas de dentes,
é, hoje, o grande responsável pela crise na saúde pública, corredores de
hospitais entupidos, pelas crises na educação e na segurança, atrasos nos
pagamentos dos servidores, altas nas contas de energia elétrica e trilionárias
isenções fiscais.
Se falta comida na sua casa, pode
apostar que tem alguma mala por trás disso; se não tem dinheiro para comprar
remédios, é porque alguém encheu muitas malas com seu futuro; se o dinheiro não
dá mais para a gasolina, procure nas malas, está na mala de alguém.
Em breve sairá em protesto às ruas do
Brasil o MSM – Movimentos dos Sem Mala, ou MMV – Movimentos dos Malas Vazias,
(ainda não está decidido) porque é ela, a mala, que dá status, enche contas
secretas, paga viagens internacionais, joias, grifes, hotéis de luxo, carros
importados. Sem Teto, dá para aguentar; Sem Terra, pode até ser suportável, mas
sem mala ninguém mais chega a lugar nenhum.
Vejam que o presidente do Brasil, hoje,
foi eleito por malas, inclusive malas internacionais e que a presidente Dilma Roussef
caiu porque não tinha malas ou não quis distribuir malas nas churrascarias e
saguões de hotéis.
Assim, a mala dita, hoje, o regime e o
sistema político adotado no país. Dependendo da quantidade de malas, podemos
sair da democracia para a ditadura num passe de mágica. Podemos também mudar do
presidencialismo para o parlamentarismo e colocar num trono o Rei das Malas,
Michel Temer e seu séquito de malatáveis, devidamente comandados por Geddel
Vieira Lima e José Sarney.
E, assim, a não ser que a plebe ignara
tome alguma atitude, a República das Malas dominará para sempre o Brasil.
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