segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A República das Malas

JM Cunha Santos


E quem diria que a mala, um mero artefato de viagem, um simples adorno romanesco na vida de retirantes empobrecidos, em geral carregado de roupas velhas, esperanças e desilusões, se tornaria o principal símbolo do poder no Brasil.
É a mala, hoje, o objeto mais filmado em investigações secretas, a principal responsável pela conquista de mandatos parlamentares, pela eleição de muitos governantes e também pela presença de figuras ilustres da República em presídios federais. Figuras que logo serão libertadas, muitas malas depois.
Malas pagam reformas trabalhistas e previdenciárias, resgatam dívidas de precatórios, substituem decretos, impõem e mudam decisões judiciais, derrubam e elegem presidentes da Nação. Um objeto que praticamente servia apenas para carregar sabonetes, toalhas e escovas de dentes, é, hoje, o grande responsável pela crise na saúde pública, corredores de hospitais entupidos, pelas crises na educação e na segurança, atrasos nos pagamentos dos servidores, altas nas contas de energia elétrica e trilionárias isenções fiscais.
Se falta comida na sua casa, pode apostar que tem alguma mala por trás disso; se não tem dinheiro para comprar remédios, é porque alguém encheu muitas malas com seu futuro; se o dinheiro não dá mais para a gasolina, procure nas malas, está na mala de alguém.
Em breve sairá em protesto às ruas do Brasil o MSM – Movimentos dos Sem Mala, ou MMV – Movimentos dos Malas Vazias, (ainda não está decidido) porque é ela, a mala, que dá status, enche contas secretas, paga viagens internacionais, joias, grifes, hotéis de luxo, carros importados. Sem Teto, dá para aguentar; Sem Terra, pode até ser suportável, mas sem mala ninguém mais chega a lugar nenhum.
Vejam que o presidente do Brasil, hoje, foi eleito por malas, inclusive malas internacionais e que a presidente Dilma Roussef caiu porque não tinha malas ou não quis distribuir malas nas churrascarias e saguões de hotéis.
Assim, a mala dita, hoje, o regime e o sistema político adotado no país. Dependendo da quantidade de malas, podemos sair da democracia para a ditadura num passe de mágica. Podemos também mudar do presidencialismo para o parlamentarismo e colocar num trono o Rei das Malas, Michel Temer e seu séquito de malatáveis, devidamente comandados por Geddel Vieira Lima e José Sarney.

E, assim, a não ser que a plebe ignara tome alguma atitude, a República das Malas dominará para sempre o Brasil.

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