Folha de São Paulo
Há fatores
suficientes para comparar José Sarney e Michel Temer.
Primeiro fator: nem
um nem o outro tiveram legitimidade de origem (não foram eleitos para presidir
o Brasil). Segunda característica: os dois morrem (como presidentes) na mais
absoluta solidão.
Terceira semelhança:
não há um único candidato, entre os 13 de 2018 ou entre os 22 de 1989, que se
anime a defender o presidente de cada momento, Temer e Sarney.
Talvez essa situação
constrangedora explique a salva de tiros que Michel Temer disparou contra
Geraldo Alckmin em vídeos divulgados nesta semana: é um atirador solitário, uma
espécie de “sniper” da política tentando evitar que até quem o apoiou a
princípio passe agora a tentar caçar votos na ampla base de indignados com o
governo Temer.
É o oposto do que fez
Sarney. Morreu em silêncio. Nem se queixou, por exemplo, do fato de que
Aureliano Chaves, seu ministro (de Minas e Energia) por quase quatro anos não
disse uma palavra para defender o governo de que fizera parte.
A grande mágoa de
Sarney, no entanto, foi com Fernando Collor de Mello, exatamente seu crítico
mais feroz na campanha de 1989.
Collor, como Sarney,
fizera carreira na Arena, o partido de sustentação da ditadura, até se
transferir para o PMDB, como Sarney, para eleger-se governador de Alagoas
(1986), surfando no êxito do Plano Cruzado, editado por Sarney.
Que os candidatos de
esquerda e centro-esquerda (Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e Mário
Covas) o criticassem entrava no script previsível. Que um candidato de direita
o fizesse não lhe parecia natural.
É a mesma lógica que
parece orientar os disparos de Temer sobre Alckmin: que Ciro Gomes, Marina
Silva e o candidato do PT, seja qual for, o ataquem é jogo jogado.
Mas é insuportável
que o ataque mais saliente venha justamente do candidato do partido que o
ajudou na conspiração para o impeachment e na montagem do governo.
Não parece, no
entanto, que a reação a Alckmin melhore a situação de Temer, assim como o
silêncio não ajudou Sarney: o desprestígio do atual presidente é tão formidável
que, se ele fala, é criticado; se cala, também.
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