JM Cunha Santos
É tão difícil
escrever isso!
Mas estão prevendo,
na minha sala, na minha porta, na minha rua, todos os dias, que a Constituição
Federal do Brasil sofrerá atentados talvez irreparáveis nos próximos quatro
anos. Isto se, por alguma delegação diabólica, dela não suprimirem todo o
capítulo referente aos Direitos e Garantias Fundamentais, inevitavelmente
inspirado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Acusem-me de
pessimista e/ou catastrofista se assim o quiserem, mas estou vendo tempestades
legais, furacões institucionais se formando sob os céus da pátria brasileira.
Talvez seja apenas
a premonição errônea e apavorada de um velho jornalista, mas estou assistindo
ideias como armar, matar, calar o pensamento crítico se sobreporem a esses
direitos e garantias, a partir da língua imperiosa de um novo poder. A proteção
do Estado parece-me destinada apenas às elites: à elite rural, à elite
armamentista, à nova elite política etc.
O governo que vem
aí se cercou dos mais poderosos militares, na condição de ministros, um
primeiro passo para reativar conceitos só interpretáveis à luz da discricionariedade,
como Segurança Nacional e Subversão da Ordem Estabelecida, ressuscitados, não
há outra conclusão, apenas para lesionar os mais lídimos direitos da humanidade
– como o de livre opinião, por exemplo.
Outro dia, durante
palestra sobre os 30 anos da Constituição Federal, o deputado Othelino Neto
ensinou que o Congresso Nacional já foi fechado 15 vezes e, diante das
manifestações autoritárias que assistimos, nada impede que muito brevemente
isso aconteça mais uma vez.
Fato é que a
democracia e o estado de Direito estão à deriva enquanto metralháveis por uma
incontestável e sub-humana vontade autoritária que não se contém. Essa vontade
quer que os Sem Terra sejam tratados como terroristas, (dois líderes do MST
foram mortos por encapuzados recentemente), quer suprimir terras dos indígenas,
quer evoluir a tortura de crime hediondo para prática aceitável e quer dar ao
estado poder de vida e morte sobre o cidadão por via de uma alucinada
interpretação da missão policial.
As promessas de
governar de acordo com a Carta Magna de 1988 não me convencem. O cheiro de
carnificina ideológica exala de cada movimento, num diapasão alimentado por
discursos de ódio que ameaçam a democracia e vilipendiam a segurança do
cidadão.
Por outro lado, o
discurso da ministra Rosa Weber durante a diplomação do presidente eleito, ao
tempo em que revela uma certa disposição do Poder Judiciário de enfrentar a
tragédia anunciada do autoritarismo, é também o discurso do medo do que possa
acontecer a partir de 1 de janeiro no país.
Por tudo isso é que
essa voz incômoda sibila insistentemente em meus ouvidos: aprenda a viver sem
direitos, antes que para você seja tarde demais.
Meu caro Cunha, lendo este post percebo que não sou o único a ter esta impressão, tomara que seja só impressão, mas como tu, também acho muito perigoso o discurso que venceu a eleição para Presidente de nosso país...as elites, estas percebe-se claramente à medida que os Ministérios vão sendo distribuídos, Oxalá estejamos errados.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.
Obrigado amigo Jair. Como disse tomara que seja só impressão provocada pelos fatos políticos.
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