Governador do
Maranhão prevê um ciclo de baixo crescimento econômico e dificuldades para os
estados
Folha
de São Paulo
Empossado para mais quatro anos como governador Maranhão, Flávio Dino (PC do B)
prevê um ciclo de baixo crescimento econômico e dificuldades para os estados.
À frente de um dos
estados mais pobre do país, diz que buscará uma relação institucional
respeitosa com o presidente Jair Bolsonaro, mesmo lhe fazendo oposição.
Por outro lado,
critica a “lógica de confrontos eternos” de Bolsonaro e seus ministros: “É como
se fosse um amor pela guerra”.
O senhor assume
para um segundo mandato enfrentando um cenário econômico ainda mais complexo do
que em 2015. Será um ciclo de maior dificuldade? Acho que
teremos um crescimento econômico baixo, mas a gente consegue atravessar 2019.
Conseguimos terminar o primeiro mandato com o salário dos servidores em dia e
com as dívidas com os bancos sendo pagas normalmente. Temos algum atraso com
fornecedores, mas nada alarmante. De qualquer forma, desde novembro estamos
fazendo um ajuste nas despesas, com renegociação de contratos em várias áreas.
Sendo um governador
de um partido de oposição ao presidente, como pretende conseguir repasses
voluntários do governo federal? Não faço planejamento contando
com novos recursos federais. Não está na minha contabilidade. Se aparecer [o
recurso], ótimo. O que espero do governo federal é que ele faça sua parte,
garantindo estabilidade e crescimento da economia.
Mas o senhor
buscará pontes com o presidente? Nosso desejo é que a relação
com o novo governo se dê normalmente como aconteceu como Michel Temer. Fui
oposição a Temer, mas tivemos uma relação institucional absolutamente normal.
Eu não vou renunciar a nenhuma das minhas posições e o presidente não vai
renunciar às dele. Mas espero que tenhamos uma relação em termos respeitosos e
não em uma lógica de confrontos eternos.
Como avalia as
primeiras medidas do presidente Bolsonaro? Esses primeiros dias já mostram
um traço muito preocupante do presidente e de seus ministros que é o de criar
conflitos, como se fosse um amor pela guerra. Isso é ruim, pode criar uma
espiral negativa que contamina o ambiente político. Por exemplo, o presidente
atendeu ao pedido do Ceará de envio Força Nacional, mas fez criando conflito.
Criticou o governador [Camilo Santana, do PT], dizendo que ele é radical. Achei
muito estranho, esquisito. Ele trata o envio da Força Nacional como se fosse um
favor. Não é um favor, é um dever, uma obrigação. São os estados que mantêm a
Força Nacional.
Como vê as
declarações do presidente de combater o socialismo e o comunismo? Ninguém é
obrigado a concordar com a ideologia alheia, mas tem que conviver. A
Constituição garante o pluralismo político. Não cabe a nenhum ator político
fazer expurgos e eliminar os diferentes. Fico em dúvida se o governo tem uma
concepção ideológica de eliminar os adversários ou se isso é uma mera
distração. Na ausência de uma agenda mais substantiva, com início, meio e fim,
se recorre a esses expedientes como discutir cor de roupa ou demitir
funcionário porque escreveu ‘Marielle vive’. O Brasil não está acostumado a ver
isso em um governo. Espero que seja uma coisa de início e que depois ele mude.
O governo do
Maranhão publicou um decreto do Escola sem Censura, uma espécie de contraponto
ao Escola sem Partido. Vê eficácia em medidas como esta? O nosso
decreto é para dar segurança jurídica. É simplesmente o cumprimento da
Constituição, que prevê a liberdade de cátedra. Já o Escola sem Partido é o
nome fantasia para escola com censura, escola que quer constranger professores
e estudantes a se enquadrarem em um manual ditado de cima para baixo. É
retroceder 300 anos e voltar para o período pré-iluminista.
Como vê o futuro da
esquerda no Brasil, agora na oposição? A união é um valor necessário.
E temos que ir ao ponto substantivo: ter uma posição firme em defesa dos
direitos dos mais pobres. Defender os direitos dos trabalhadores, índios,
mulheres, crianças, todos que estão no alvo de políticas do novo governo. A
gente não cair num desejo aparente de certas figuras do governo de ficar
batendo boca pura e simplesmente.
O senhor fala em
união, mas o PC do B ensaia um bloco parlamentar com PSB e PDT, mas sem o PT.
Não é um contrassenso? Este bloco não é uma novidade. Já o fizemos
em 2007, quando eu era deputado federal, e funcionou muito bem. Isso não
elimina o diálogo, já que não será um bloco contra o PT. Ninguém do nosso campo
pode ser contra o maior partido da oposição e o maior líder popular da história
desse país. Mas temos a nossa identidade, nossas nuances, nossa história e é
normal que neste período nós reforçarmos isso. Não significa hostilizar o
outro.
Antes da eleição,
em maio, o senhor defendeu Ciro Gomes como candidato das esquerdas em um
cenário sem Lula. Olhando para trás, acha que foi um erro apostar em Fernando Haddad? Naquele
momento [maio de 2018] defendi o Ciro, mas poderia ser o Haddad. O que lamento
mesmo foi não ter sido feita uma união mais ampla já no primeiro turno. O
resultado mostrou que, com uma união mais ampla no primeiro turno, chegaríamos
ao segundo turno em um patamar maior. Haddad cresceu quando houve essa união,
uma articulação ampla com professores, intelectuais, sindicalistas. A sociedade
se uniu.
Há um candidato
natural para 2022? É muito cedo para discutir isso. Temos que saber qual o futuro de
Lula, como Ciro vai se comportar, se Haddad vai manter a liderança que
conquistou com a eleição. Vamos esperar o curso do processo político. Tenho
certeza que sentimento da sociedade será transformado. O governo que assumiu,
infelizmente, vai cometer muitos erros.
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